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Leitores: Em homenagem à Rosalina Filipa e ao seu Forte da Ínsua

Joaquim Bonifácio e Nelson Antunes, Orientadores da Rosalina Filipa no Trabalho de Projeto de Mestrado em Design de Interiores e Mobiliário (ESART–IPCB) - 10/01/2018 - 9:45

Infelizmente, o seu trabalho foi interrompido por um acidente cruel que ceifou igualmente a vida do seu companheiro Ricardo Louro.

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Na foz do rio Minho em frente às praias de Moledo e Caminha há uma ilhota com um forte, o Forte da Ínsua.

Sendo hoje Monumento Nacional a ilha foi ocupada em finais do século XIV por uma comunidade de frades franciscanos, os Frades Menores, tendo por ordem de D. João I sido construído paralelamente um primeiro forte, de que já não restam vestígios. A decisão da utilização permanente da ilhota deveu-se, por certo, à existência de um poço de água doce, ocorrência muito rara em ilhotas desta dimensão. Durante os séculos XVII e XVIII houve diversas reconstruções tanto do mosteiro como do Forte até que nas guerras peninsulares a coligação entre espanhóis e franceses ocupou a ilhota. Depois, pela extinção das ordens religiosas e perda das funções militares, a sua ocupação foi sendo abandonada. Recentemente o Forte da Ínsua foi englobado no programa Revive, que permite a sua entrega a exploração privada para finalidades diversas designadamente como instalação turística.

Foi este o projeto que a Rosalina Filipa escolheu para o trabalho de conclusão do seu mestrado em Design de Interiores e Mobiliário na Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo Branco. A Rosalina apaixonou-se por uma ilhota misteriosa, entrevista entre a neblina costeira no meio do mar, sublinhada por um recorte da luz forte do pôr-do-sol. A Rosalina viu o potencial de estímulo do imaginário coletivo que a difícil acessibilidade, num efectivo isolamento, proporcionam. Percebeu também que a existência do poço de água doce é a manifestação de vontade da ilha para resistir e continuar a manter vida.

A Rosalina fez-nos entender a ironia que é ter um forte que, da vez em que verdadeiramente foi testado nas suas funções, claudicou e tornou-se baluarte dos ocupantes. Para ela, que encontrava sempre força e um sorriso contido para enfrentar as dificuldades que a vida lhe apresentou, o efeito do desconhecido, e aparentemente inacessível, sobrepôs-se à atual real ruína e perca da utilidade. Por isso quis aprofundar a hipótese de criar uma solução viável de reabilitação, com respeito das normas e convenções internacionais relativas ao património. A Rosalina sabia que a utilização do espaço como instalação hoteleira, por exemplo, dificilmente respeitará o princípio da reversibilidade, que impõe que as intervenções em património classificado possam ser revertidas quando surja uma outra melhor solução.

Paralelamente compreendeu também que a preservação do património passa por encontrar soluções imaginosas propiciadoras da geração de meios para essa preservação. Assim, a proposta de intervenção que estava a preparar visava criar condições, através de uma intervenção reduzida ao mínimo indispensável, para a vivência do Forte e não permitindo, paralelamente, que se torne um espaço privado para acesso de apenas alguns.

Infelizmente este trabalho foi interrompido por um acidente cruel que ceifou igualmente a vida do seu companheiro Ricardo Louro.

Assim, temos uma dívida para com a Rosalina, que é também uma homenagem, e que é acarinhar o sonho e defender o seu Forte da Ínsua, aquele que permite que todos nós nos sintamos meninos a criar piratas, tesouros e segredos escondidos e, ao mesmo tempo, imaginar a vida sofrida dos que habitaram a ilha e que aquelas pedras nos testemunham.

Aos colegas da Rosalina cabe igualmente a responsabilidade de, logo que possível, assumir o projeto e apresentar outras soluções.

 

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