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Um futuro em construção

Florentino Beirão - 04/01/2018 - 9:25

No início de mais um Novo Ano, todos nos habituámos a desejar as maiores felicidades aos nossos familiares e amigos. Um ritual que cumprimos, por vezes, já quase de um modo inconscientemente, mas sempre na esperança de que os dias vindouros nos tragam as maiores venturas, sobretudo, paz e saúde, pilares fundamentais das nossas vidas.
Mas, como ensina o povo, “as coisas não caem do céu”, cabe a cada um empenhar-se na construção programada do seu futuro. É o que hoje costumamos designar como o nosso “projeto de vida”, bem assente na realidade. Neste, certamente se deve incluir uma robusta dose de sonho. Como diz o poeta, “pelo sonho é que vamos”.
Se bem revisitarmos a nossa História Pátria, Portugal só foi grande e se engrandeceu, quando programou o seu futuro, com método, trabalho e sonho. 
Iniciemos pela “Reconquista Cristã” (c.1.135-1.249), um longo período que envolveu os nossos primeiros reis, os quais, através de continuadas guerras contra a moirama, conseguiram conquistar o território onde hoje vivemos e, com o qual, nos identificamos, politica e culturalmente. Em várias gerações, os nossos avós foram assim capazes de conquistar um vasto território à custa das suas próprias vidas, salpicados de sangue. Com avanços e recuos, assim foram desenhando o nosso país. Mais tarde, no longo e venturoso período dos descobrimentos, nos séculos XV e XVI, também conseguimos ser grandes porque, sabiamente, nos soubemos organizar, para “dar novos mundos ao mundo”. Um empenhamento longo e entusiasta que conseguiu mobilizar uma boa parte do país, com apenas cerca de um milhão de habitantes. Homens do povo, marinheiros, clero, nobres, príncipes e reis, foram-se envolvendo nesta hercúlea missão, ao longo de várias gerações, porque havia um projeto nacional. Mais tarde, em 1640, na guerra da “Restauração” (1640-1668), a Nação ainda se envolveu numa prolongada guerra que nos permitiria a libertação do jugo filipino.
Chegados ao regime liberal, ao longo da 2.ª parte do séc. XIX, a seguir à guerra civil, com um país mais pacificado e unido, tentámos modernizar as nossas infraestruturas, através do lançamento dos caminhos- de- ferro e das estradas nacionais, embora deixássemos para trás a nossa débil industrialização.
Pelo exposto, julgamos que podemos concluir que os portugueses conseguiram construir, nos seus melhores momentos, grandes projetos nacionais, executados ao longo de muitos anos, metodicamente, e sem desfalecimentos.
Quanto a nós, esta provada capacidade de união social e política do nosso país, nos nossos dias, para além da nossa adesão à Europa (12.06.1985) em poucos mais projetos estruturais os partidos, em democracia, conseguiram acordos de longo prazo. Assim, com alguma frequência, um novo governo, logo que assume o poder, se apressa a desfazer o que o anterior construiu.
Assim tem acontecido com a segurança social, com o ensino, a saúde, a justiça... Pouco se tem consolidado. Fazer e desfazer, imitando a mulher de Ulisses, tornou-se a norma política. A sabedoria de longo prazo é preterida face aos efeitos eleitoralistas. Para áreas essenciais do país, pouco ou nada se tem conseguido. Nomeadamente, a sempre adiada reforma do Estado e do território, deixando à deriva os cidadãos – como no caso dos fogos deste verão. Se olharmos para a poluição dos nossos rios e zonas ribeirinhas, verificamos que muitos continuam abandonados, sem empenhamento continuado. Relativamente à tão badalada revisão da Lei Eleitoral, nem um vislumbre se vê na sua concretização. Se olharmos para os PALOPS, o que temos visto de concreto? O mesmo podemos dizer no combate à corrupção. Faltando meios e métodos eficazes para a combater eficazmente, tem medrado a olhos vistos. 
Nas últimas décadas, o país, quanto a nós, tem andado, sobretudo, atrás do prejuízo, empurrado pelos acontecimentos, sem uma estratégia bem definida e galvanizadora de longo prazo. Perdidos os bancos para Espanha, a eletricidade para os chineses, o petróleo para os angolanos, uma boa parte das leis já vêm de Bruxelas, o nosso sonho de futuro parece cada vez mais esfumado. Importa assim que a construção do nosso país reata a sabedoria dos nossos avós quando, unidos no essencial, souberam desenhar um grande projeto nacional. Traçarmos galvanizadores caminhos de futuro para nós e para as futuras gerações, seria a taluda de um Feliz Ano Novo. Bom Ano! 
florentinobeirao@hotmail.com

 

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