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Leitores: Interior, a palavra que assusta

Abílio de Jesus Chaves - 02/11/2017 - 10:27

Os concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova, serão talvez a nível Nacional, os que apresentam melhores condições para um desenvolvimento sustentável de uma agro-indústria altamente rentável.

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Os concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova, serão talvez a nível Nacional, os que apresentam  melhores  condições para um desenvolvimento sustentável de uma agro-indústria altamente rentável. Porém, o que se vê, são estes dois concelhos a não descolar do ronceiro combóio do desenvolvimento e da sua modernização, perdendo mesmo a sua gente, com a desculpa de se tratar do interior. Vamos por partes:                      
Quem passar por qualquer Grande Superfície Comercial, pode verificar que qualquer uma possui nas suas prateleiras enchidos de porco alentejano em quantidade e qualidade. No Norte de Portugal, as feiras de enchidos sucedem-se com grande frequência e vendem os seus produtos por preços muito razoáveis até em zonas que nunca tiveram grandes tradições nesse ramo de negócios. Aqui, em Castelo Branco e Idanha-a-Nova, possuem-se todos os requisitos para suplantar tudo quanto referido. Repare-se: estes dois concelhos possuem uma mancha de azinhal colossal, como não há no Alentejo. Esta mancha de azinhal começa em Vila-Velha de Rodão, vai a Malpica do Tejo, passa por Monforte da Beira, segue para o Rosmaninhal, vira para a Zebreira   centrando-se na Lomba do Botelho,  Amieiro, Cegonhas, São Domingos Velho, Campinho, Etc. Daí segue para os vales da Toulica, Toula e Aravil até quase a Salvaterra do Extremo  e,  ainda alguns núcleos de azinheiras com alguma expressão na barragem de Idanha-a-Nova, por exemplo. Esta colossal mancha de azinheiras está literalmente desperdiçada. Produz muito pouco. Está mal tratada. Os terrenos por baixo das árvores, muitos estão cheios de mato maninho. As árvores nem sempre são limpas. Não há substituição das azinheiras velhas por novas. Estão lá porque é proibido arrancá-las, de outro modo, já tinham sido substituídas por eucaliptos, os quais, escaldam o terreno por dezenas de anos. Em tempos proliferavam por entre elas variadíssimas varas de porcos, por serem as azinheiras que produzem a essência ideal para a sua engorda. Acresce referir, que aquela mancha colossal de árvores, devidamente tratada e convenientemente explorada, podia engordar por ano mais de 50.000 porcos, suficientes para abastecer a Europa de presuntos e enchidos de qualidade inigualável. Porém, nada acontece. Há ainda outra componente de respeito para completar o quadro, também ela abandonada. Esta referência vai direitinha para o regadio da campina de Idanha-a-Nova que está lá às moscas. Em tempos, cultivou-se lá algum tomate, com uma fábrica para o seu tratamento, que a espatifaram sem dó nem piedade. Passou-se para alguma produção de tabaco, que também já se foi. Agora, poderia ser aproveitado o regadio para a produção de milho para alimentar milhares de animais e colmatar a falta que temos desse produto, simplesmente nada. Como é complicada a agricultura no nosso país. Não vamos mais longe, a nossa vizinha Espanha, desde Salamanca até quase aos pireneus, não se vê um hectare de terreno por cultivar naquele itinerário. Por volta de Junho-Julho colhem o trigo que está lá agora e, começam de imediato a lavrar os terrenos para semear culturas de outono. Entra-se na França, logo a seguir aos Pireneus, salvo pequenas matas que eles deixam para protecção dos animais selvagens, só se vêem terrenos cultivados até Paris. Um pouco mais longe, o meu neto Luís Miguel Chaves, fez uma viagem aos Estados-Unidos, atravessou aquela Nação de Nova-Iorque até S. Diego já no Pacifico, diz ele, que olhava para baixo e só via terrenos cultivados, a excepção eram os desertos. Torna-se necessário, no entanto, esclarecer, que o abandono em que se encontram estes dois concelhos, nada tem que ver com os seus autarcas, que fazem o melhor que podem e sabem. São assuntos dos governos centrais tutelados pelo Ministério da Agricultura. São propriedades privadas, exploradas de acordo com a vontade dos seus donos, que nem sempre levam em conta, os interesses da Nação, da Região e dos seus semelhantes, lesando tudo e todos. Há, pois, em todas estas considerações, uma evidência iniludível, que suprimida, poderia contribuir de modo claro para o bem comum e o desenvolvimento da economia portuguesa. 

Abílio de Jesus Chaves        

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