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A criação de Israel (1948-2018) (1) O sonho dos pioneiros

Florentino Beirão - 12/04/2018 - 9:53

Ocorre, no próximo mês, setenta anos da criação do Estado de Israel. Oportunidade para revisitarmos os antecedentes deste histórico acontecimento. Na próxima ocasião, trataremos o espaço que vai da criação do Estado de Israel (1948), até aos nossos dias. 
O traumatismo provocado pelo exílio dos judeus no ano setenta da nossa era, ordenado pelos romanos, destruindo o Templo de Jerusalém, foi mantendo neste povo a nostalgia do regresso à “Terra Prometida” por Javé a Moisés. Passados tantos séculos, repetia-se um novo “Êxodo”.
 Segundo o oráculo do rabino Moisés Maimonide (1138-1204), que se tornou muito popular, entre os judeus, na idade - média, “os tempos messiânicos teriam lugar logo que os judeus reconquistassem a sua independência e retornassem todos à Terra Santa”. Mais tarde, no séc. XVII, Spinoza 1632-1677, um filósofo judeu que fugiu de Portugal para a Holanda, devido à perseguição da iníqua “santa inquisição”, nas suas reflexões, referiu-se à identidade judaica e à sua emancipação como povo. Portanto, o sonho dos judeus, perseguidos e excluídos das sociedades onde viviam, durante tantos séculos, nomeadamente em Portugal e Espanha (séc. XVI-XVII), em se virem a juntar de novo, tornou-se uma contínua aspiração. Porém, seria só no séc. XIX, com a emergência dos nacionalismos na Europa, que se criou o contexto político propício, para os judeus tentarem concretizar esta sua velha aspiração.
Os primeiros pioneiros que se lançaram na aventura do retorno, em demanda da Palestina, arrancaram da Rússia em 1889, após uma feroz perseguição promovida pelo Czar por, supostamente, os judeus se encontrarem ligados ao assassinato do czar Alexandre II, em 1881. Esta acusação levou a que milhares de judeus fossem massacrados, as suas mulheres violadas e os seus bens pilhados, com indiferença das autoridades. Perante estas desumanas atrocidades, cerca de cem mil judeus decidiram partir para a Palestina, ocupando terras agrícolas em Jericó, hoje Cisjordânia. Quando aqui chegaram, esta região inóspita era governada pelos turcos- otomanos que concederam a estes pioneiros gozarem de um estatuto de não muçulmanos, embora submetidos a certas obrigações, nomeadamente de indumentária própria e de fiscalidade. Em troca, era-lhes garantida a segurança pessoal e aos seus bens.
Nascia então um grupo ativista “Os Amantes de Sião” – um monte de Jerusalém – que se organizaram no sentido de apoiarem o regresso do seu povo à antiga “Terra Prometida” por Javé.
Chegados a meados do séc. XIX, o jornalista judeu que vivia na Hungria, Theodor Herzl (1860-1904) incarnando também o espírito deste grupo, organizou o “sionismo mundial”. Entretanto, com o polémico caso Dreyfus (1895) em Paris, deu-se origem ao grito “morte aos judeus” que causou em França, uma feroz perseguição contra os judeus. Perante este violento acontecimento, este jornalista mais convencido ficou, de que a integração dos judeus no espaço europeu se tornava cada vez mais impossível. A alternativa que se colocava então, para se evitarem semelhantes perseguições, seria a opção pela criação de um Estado judaico para reunir e salvaguardar este povo disperso, em diáspora, das ferozes e contínuas perseguições com que era confrontado em vários países da Europa, incluindo a Rússia. Só esta solução segundo ele, poderia evitar o antissemitismo. Este termo foi inventado pelo jornalista Wilhelm Marr (1819-1904), em 1873, o qual, sendo hostil aos judeus, os julgava inassimiláveis por razões raciais. Ainda neste século, surgiriam vários grupos de judeus, uns religiosos outros laicos, coexistindo neles várias tendências políticas, desde a extrema-direita integrista, à esquerda marxista e trabalhista. A estes se juntava ainda a direita liberal e os sociais- democratas. A todos eles os unia a criação de um Estado judaico. Apenas o lugar para este novo país, divergia entre eles. Chegou-se mesmo a propor, mas rejeitado em congresso, a possível localização na Argentina ou no Uganda, então colónia britânica. Porém, a opção final seria a Palestina onde, após vários contactos diplomáticos com o Sultão Abdul, senhor do império otomano, se compraram campos agrestes no litoral, a sírios e otomanos ricos, onde grassava o paludismo. Com uma comunidade aqui implantada, mais fácil se tornaria a criação do Estado de Israel em 1948, após a II Guerra Mundial, descobertos que foram os campos de extermínio nazi.

florentinobeirao@hotmail.com

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