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A cultura do erro nas organizações empresariais

Luís Beato Nunes - 23/06/2016 - 10:37

A citação latina «errare humanum est…» (errar é humano) é muitas vezes repetida para aliviar o silêncio dramático após uma decisão azarenta, ou um acontecimento evitável atribuído à estultícia de alguém.

            Porém, a referida citação continua com «… perseverare diabolicum», ou seja, se errar é humano insistir no erro é desastroso. Albert Einstein resumiu esta ideia ao definir loucura como o ato de “(…) repetir vezes sem conta a mesma coisa esperando de cada vez um resultado diferente”.

            A aversão ao erro e ao fracasso pode, por vezes, levar-nos a recear inovar ou experimentar soluções novas, condicionando a nossa capacidade empreendedora, por isso é importante equilibrar a aprendizagem através do erro e a ineficiência provocada pela repetição desnecessária de algumas falhas. 

No artigo “Strategies for Learning from Failure” de Novembro de 2014 publicado na Harvard Business Review, a Professora Amy Edmondson realçava que a aprendizagem através do erro é fundamental no meio empresarial, apesar de ainda serem poucas as organizações a adotar este tipo de metodologia. Para a maioria dos gestores errar é sinónimo de fracasso e consequente despedimento.

            De facto, na maioria das famílias, organizações ou culturas, o erro e a culpa são virtualmente inseparáveis. A certa altura, o ser humano descobre que admitir o erro significa igualmente pagar por ele, ou seja ser castigado. É por isso que tão poucas organizações adotam uma cultura na qual seja possível identificar benefícios de aprender com os erros.

            Contudo, errar nem sempre é mau. No meio empresarial errar por vezes pode ser mau, inevitável, ou até mesmo bom. Segundo Amy Edmondson, a maioria das empresas carece das atividades necessárias para uma avaliação adequada e eficaz dos erros.

                 A primeira dessas atividades é a deteção do erro, sendo que detetar um erro grande e caro até pode ser fácil, no entanto qualquer falha que puder ser ocultada ficará encoberta enquanto for improvável causar dano imediato ou óbvio. O objetivo, segundo Amy Edmondson, deve passar por expor o erro antes que este se possa transformar num potencial desastre. 

            Depois de um erro ser detetado é essencial ir além das causas óbvias e superficiais e compreender a origem do problema. Esta análise requer disciplina e até entusiasmo no uso de análises sofisticadas para assegurar que as lições certas sejam aprendidas e as soluções adequadas sejam adotadas.

            A última das atividades necessárias para aprender com os erros é a realização de testes de forma estratégica, através da experimentação. Um exemplo desta experimentação no meio empresarial é o lançamento de produtos ou serviços em carácter piloto.

            É muito comum os responsáveis por um piloto criarem condições ideais, em vez de representativas e, como tal, o piloto acaba por não gerar informações relevantes sobre eventuais falhas no produto ou serviço em questão. Deste modo, é fundamental não recear experimentar em condições reais, onde as potenciais falhas ocorrem.  

            Em suma, organizações que verdadeiramente aprendem com os erros são aquelas que, em vez de se limitarem à deteção e à análise de falhas, tentam produzir erros com o objetivo expresso de aprender e inovar. Não é que os líderes dessas organizações gostem de errar, o que fazem é reconhecer o erro como um subproduto da experimentação. 

luis.beato.nunes@gmail.com

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