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Agentes económicos e mercados: Quem expetativas desilude, confiança não merece

Luís Beato Nunes - 25/05/2016 - 11:38


Já aqui tive oportunidade de escrever sobre a importância das expetativas geradas pelos agentes económicos para o funcionamento estável dos mercados, sobretudo pelo facto destas revelarem comportamento esperados pelos respetivos agentes no futuro.
Ora, quando estas expetativas não se cumprem, seja porque o consumo privado tenha ficado aquém do previsto, seja porque o montante de investimentos tenha sido relativamente baixo, a confiança depositada nas previsões realizadas pode dar lugar a um certo sentimento de insegurança coletiva face ao futuro.
Segundo Robert K. Merton, importante sociólogo americano, uma espiral de expetativas falhadas pode mesmo resultar numa recessão económica, sobretudo devido ao pânico coletivo suscetível de se gerar quando as previsões sobre o futuro falham persistentemente, resultando no que este autor apelidou de “self-fulfilling prophecy” (profecia auto-realizável), acabando mesmo o pior por acontecer.
Infelizmente, nos últimos cinco anos em Portugal sobram exemplos deste tipo de profecias, especialmente no setor financeiro, nomeadamente com o Banco Privado Português (BPP) e com o Banif. Poderia, ainda, acrescentar os casos do BES e do BPN, mas estes últimos apresentam fortes indícios de gestão fraudulenta.
Conforme observado por um dos maiores economistas do século passado, John Maynard Keynes, a incerteza é um elemento do processo de formação das expetativas que não pode ser avaliado objetivamente, pelo que a variável relevante será o grau de confiança que os agentes atribuem às expetativas. Deste modo, se a ausência de confiança pode resultar em recessões, a sua solidez é essencial na recuperação da atividade económica, não deixando este de ser um dos assuntos mais controversos da teoria económica ao longo dos últimos anos.
Segundo Keynes, as decisões sobre a realização de investimentos dependem das previsões acerca da respetiva rentabilidade e da confiança nessas expetativas, formadas a partir da observação empírica do comportamento dos mercados. Ora, na ausência do pleno conhecimento acerca de eventos que ainda estão por acontecer, os agentes formam expetativas com algum grau de confiança.
Muitos dos discípulos de Keynes alertam para o risco da criação de ciclos de pessimismo ou otimismo na economia, através dos designados “animal spirits”, ou reações por impulso por parte dos agentes económicos que poderão, muitas vezes irracionalmente, conduzir a economia para o crescimento ou para a depressão. 
Num mundo cheio de impulsos individuais materializados em comportamento coletivos, os decisores das políticas económicas têm um papel fundamental na coordenação e gestão das expetativas sociais, visto que os agentes podem mudar de sentimento muito rapidamente.
Assim, a reputação, a credibilidade e a transparência das instituições governamentais são essenciais para a geração de expetativas sólidas e consistentes sobre a evolução das principais variáveis económicas, e consequente criação de um ambiente de confiança entre os agentes económicos. 
Em conclusão, se as previsões económicas das instituições responsáveis forem sólidas e consistentes estas podem transmitir confiança ao setor privado, estimulando a realização de investimentos, promovendo o consumo sustentável e reforçando o grau de previsibilidade do comportamento dos mercados, evitando notícias inesperadas e potencialmente indesejadas.
luis.beato.nunes@gmail.com

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