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Leitores: Os mortos não têm partido

Pires da Costa - 17/08/2017 - 10:08

É deveras confrangedor o que, no campo político, se tem passado neste país, desde o pavoroso incêndio ocorrido na zona centro, Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra.

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É deveras confrangedor o que, no campo político, se tem passado neste país, desde o pavoroso incêndio ocorrido na zona centro, Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra.
Mas o assunto não dá para grandes delongas, já que todos os meios de comunicação social têm sido duma enorme prodigalidade em notícias e relatos de acontecimentos.
Como é possível, em circunstâncias tão dramáticas como as que o país tem vivido com  o flagelo dos fogos que, ininterruptamente, têm consumido áreas florestais, casas, culturas e outros bens de variada natureza, dir-se-ia cegamente, causando prejuízos e traumas pessoais em quantidade inimaginável, que ainda haja políticos que tentem fazer aproveitamento destes acontecimentos tão tristes para todos e  angustiantes para os que foram atingidos directamente, e tantos foram?
Desde a trovoada seca, do que muita gente nunca ouvira falar, passando pelo anúncio de suicídios, dando a impressão que não chegariam já as sessenta e tal mortes e que seria  conveniente mais alguns para que o drama fosse ainda maior, culminando tudo  com a  exigência da lista dos falecidos para se saber se foram 64 ou 65, tudo serviu para aproveitamento de luta política, execranda batalha de quem nada sabe de política, transformando tudo o que lhes vem à mão, para não dizer cabeça, para tentar arranjar mais uns votos, partindo do princípio de que os portugueses são todos estúpidos e comem toda a palha que lhes deitam na manjedoura.
Um partido pediu a criação duma comissão independente para apuramento de tudo o que se havia passado. O erro está na adjetivação da comissão: em vez de independente, deveriam pedir competente e fora do parlamento, porque das comissões parlamentares estamos todos fartos. Agora estamos no ponto de uns dizerem que já começaram os trabalhos mais urgentes e possíveis de reconstruções e recuperações diversas. Outros apregoam que nada foi feito até agora.
E uma certeza temos nós: tudo o que sirva para a ilusória convicção de obter votos no futuro será aproveitado, tudo desavergonhadamente e por cima dos cadáveres das vítimas da cruel tragédia. 
Senhores políticos do meu país, se não sabem, ficam a saber que os mortos não votam nem têm partido. Respeitem-nos! A eles e às suas famílias enlutadas e traumatizadas.
Sei que muito se tem falado, escrito e comentado acerca deste assunto. Alguém poderá, e com razão, perguntar o porquê desta abordagem. A justificação fica definida nas palavras com que vou terminar.
Não citei nomes nem partidos, propositadamente. É que, para mal dos nossos pecados, se a atual oposição estivesse no governo e este na oposição, a coisas passar-se-iam da mesma maneira. Não sou eu que o digo. A conclusão é tirada da prática habitual dos chamados partidos democráticos. A democracia não  pode ser apenas isto, até porque se a prática continuar nesta linha, qualquer dia a corda pode esticar demasiado…
Infelizmente, todos proclamam que temos uma democracia, mas alguns comportam-se como se vivêssemos numa ditadura.
E é assim que elas se arranjam!...
Uma coisa todos já sabemos: enquanto for verão e o tempo o der, a calamidade dos fogos continuará a fustigar o país, mais a norte do que a sul, mas sempre o país. Uns, poucos ou nenhuns, iniciados pelas já célebres trovoadas secas, outros, a grande maioria, pelos diversos e grandes  interesses económicos que estão por detrás de todas estas calamidades. Apelos para quê? Os tais interesses não têm consciência nem alma.  
A maldade, a ambição e os negócios escuros, normalmente, atuam e abrigam-se debaixo de toldos de difícil identificação. Cabe aqui às forças políticas desenvolverem meios capazes de  os descobrir. Isso sim, será política a valer. Sigam por este caminho e o país ficar-vos-á grato. Atuem mais e falem menos. Já chega!



pirescosta@netcabo.pt

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