Central nuclear de Almaraz. Foto DR
A administração da central nuclear de Almaraz está a preparar-se para apresentar um pedido de renovação da licença de funcionamento por mais 20 anos.
A hipótese foi avançada pelo porta voz da central nuclear em entrevista ao Canal Extremadura Rádio.
“Nos últimos 10 anos foram investidos mais de 600 milhões na renovação dos equipamentos e componentes mais importantes da instalação, que nos dias de hoje está em melhores condições para continuar a operar não só 10 mas mais 20 anos”, disse Aniceto González à rádio sedeada em Mérida.
A administração da central nuclear, localizada a cerca de 100 quilómetros da fronteira, tem até junho para apresentar uma solicitação para a renovação da licença por mais 20 anos. Caso não a consiga acena com a perda de três mil empregos e o fim de um investimento anual de 90 milhões de euros naquela que é uma das regiões mais pobres de Espanha.
Um argumento que não convence Sergio Zapatero, do Fórum Extremenho Antinuclear.
Em declarações ao Canal Extremadura Televisão argumentou que “desbloqueando o bloqueio que o governo fez às energias renováveis criaríamos sem dúvidas ainda mais postos de trabalho que a central nuclear e o desmantelamento da central também iria gerar muitos postos de trabalho”.
A vontade da administração de Almaraz em obter a renovação da licença para lá de 2020 teve um novo elã na passada semana depois de o Conselho de Segurança Nuclear (CSN) de Espanha ter autorizado o regresso à atividade da central de Santa Maria de Garoña, com quatro votos a favor e um contra.
Esta central localizada em Burgos era a mais antiga em atividade, cessando a produção de energia em 2012.
O parecer técnico é favorável mas falta o sim político.
A Junta de Extremadura manifestou-se contra a construção do armazém de resíduos nucleares em Almaraz mas é mais prudente quando o tema é o prolongamento da vida da central. Entretanto sabe-se que o CSN escreveu ao ministro da Energia espanhol Álvaro Nadal a propor uma revisão das autorizações vigentes para as centrais nucleares.
Atualmente as autorizações de funcionamento são renovadas a cada 10 anos e o regulador pretende, no máximo, que não haja limite temporal.
Em Portugal continuam as movimentações de contestação à central.
Os presidentes das câmaras municipais de Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Vila Velha de Ródão assumiram pela primeira vez uma posição conjunta nesta matéria.
Foi na conferência organizada pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco na passada semana, onde se manifestaram contra o prolongamento da vida da central para além de 2020.
Já esta semana a Ordem dos Engenheiros (OE) viu a administração da central nuclear dar o dito por não dito a uma visita às instalações.
Em comunicado publicado na sua página a OE relata que durante a viagem para Espanha foi informada pela administração do cancelamento da visita “há muito agendada” e que essa decisão foi intempestiva e “sem que tenham sido apresentadas as razões subjacentes a tal decisão”.
A delegação liderada pelo bastonário Carlos Mineiro Aires e outros altos dirigentes da ordem profissional prosseguiu viagem até à porta da central e acabou por ser identificada pelas autoridades.
Em comunicado fala em “mau exemplo do que deve ser o relacionamento, no campo técnico, entre dois países vizinhos e com preocupações que deveriam constituir o foco de um exemplo de relacionamento”.
Mas diz mais sobre o fechar de portas: “não deixará, pois, de ser encarado como uma afronta às mais elementares normas de relacionamento das comunidades técnicas e associativas de Espanha e Portugal e indutor dos mais livres juízos”.
A comissão parlamentar de Ambiente da Assembleia da República convidou as empresas Endesa e Iberdrola, que são acionistas da central, para prestarem esclarecimentos sobre o futuro desta estrutura.
O convite para comparecerem esta semana no Parlamento foi recusado alegando que está a decorrer um processo junto da Comissão Europeia. Recorde-se que Portugal apresentou queixa em Bruxelas por não ter sido ouvido no processo de decisão da construção do armazém de resíduos nucleares em Almaraz.