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Leitores: Brexit, Catalunha e Castelo Branco (1)

António Abrunhosa - 13/12/2018 - 9:54

Os últimos quarenta anos são já, sem dúvida, dos mais extraordinários que o Homo Sapiens conheceu desde que os seus avós desceram das árvores.

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Os últimos quarenta anos são já, sem dúvida, dos mais extraordinários que o Homo Sapiens conheceu desde que os seus avós desceram das árvores. Não desmerecem dos anos imediatamente posteriores à descoberta do fogo, à manufactura de flechas de sílex ou à expansão da agricultura.
Três dados permitem condensar a absoluta revolução a que uma única geração pôde assistir e ao que isso significa para o futuro de países como Portugal e de cidades como Castelo Branco.
A contribuição da União Europeia e dos Estados Unidos para o produto mundial em 1980 era de 52,1%; a da China e da Índia era de 5,2%. Em 2015, a UE e os EUA baixaram a sua contribuição para 32,7% e a China e a Índia subiram-na para 24,3%. A previsão para 2050 é de que a UE e os EUA contribuirão com 25,4% e a Índia e a China com 35,3%. É claro que, na ausência de uma implosão da UE ou de crises muito maiores que as de 2008, a UE e os EUA continuarão a enriquecer. A novidade é o enriquecimento de países como a China e a Índia, mas não só, calculando-se que as sete maiores economias emergentes já pesem mais de 50% no produto mundial em 2050.
Um segundo dado é a evolução do que se pode chamar as classes médias que passarão de 1,8 mil milhões de pessoas em 2009 para 3,2 mil milhões em 2020 e 4,9 mil milhões em 2050. Para isto contribuiu a maior eliminação de pobreza da História da humanidade, com mais de 800 milhões de pobres a deixarem de o ser, só na Ásia, em três décadas.
Um último dado é o número de viajantes e turistas que em 1950 eram 25,3 milhões, em 2015 eram 1.160 milhões e em 2030 deverão chegar aos 1.800 milhões.
Estes dados significam uma mudança total no modo de vida e na estrutura económica de dezenas de países, sobretudo na União Europeia, com uma alteração radical na distribuição das cadeias de abastecimento e de valor nos principais sectores industriais e uma alteração substancial da vocação económica de muitos países, especialmente pequenos países como Portugal.
É óbvio que as previsões dadas para 2050 vão depender totalmente de acontecimentos a que assistimos diariamente na televisão, como as crescentes dificuldades de coordenação política da União Europeia e o crescente isolacionismo económico, político e mesmo militar dos EUA. Uma ameaça maior é a possibilidade de várias guerras de grande dimensão na Ásia (China - Índia, China – Japão ou Índia - Paquistão), no Médio Oriente (Arábia Saudita – Irão) ou na Europa (Rússia - Ucrânia e países bálticos). Pior ainda é a possibilidade de a China e os Estados Unidos não conseguirem evitar a armadilha de Tucídides e travarem uma guerra, cujas consequências apocalípticas são fáceis de prever.
Um dado assustador é o do crescimento exponencial dos investimentos em armamento em todos os países referidos e a entrada em cena da guerra cibernética e da Inteligência Artificial que poderão alimentar em alguns dos actores referidos a ideia de um ataque decisivo sem resposta possível. 
Perguntar-se-á, e o que têm os albicastrenses a ver com isto? Com a guerra, possivelmente pouco, à excepção de uma agressão da Rússia a um país da NATO que poderá levar à intervenção das Forças Armadas portuguesas. Já a evolução económica terá muito maiores consequências, algumas delas eventualmente a curto prazo. 
As empresas geradoras de emprego significativo são as empresas industriais, sobretudo de manufactura. Independentemente da evolução das impressoras 3D e da robótica, continuará a haver sectores agrícolas, agroindustriais e industriais que necessitarão de uma mão-de-obra humana numerosa. O sector dos serviços assistirá também a uma explosão, que terá a ver, que mais não seja, com o número absoluto de turistas que está já a disparar e para os quais a Europa e a sua História serão sempre um polo central. Castelo Branco está mal servida nos dois campos. Na próxima semana veremos porquê.
 

 

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