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Castelo Branco: Uma imagem criada há 218 anos

Júlio Vaz de Carvalho - Investigador e membro da Sociedade dos Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior. O autor escreve na antiga ortografia - 17/11/2016 - 9:46

No ano de 1983 foi lançado com a chancela do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, um trabalho em formato catálogo com o título A Beira Baixa Vista por Artistas Estrangeiros (sécs. XVIII-XIX) da autoria de José Joaquim Hormigo e que foi, recentemente, reposto à venda na recepção do referido Museu.

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No ano de 1983 foi lançado com a chancela do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, um trabalho em formato catálogo com o título A Beira Baixa Vista por Artistas Estrangeiros (sécs. XVIII-XIX) da autoria de José Joaquim Hormigo e que foi, recentemente, reposto à venda na recepção do referido Museu. Este documento contém, entre muitas outras, duas estampas litográficas, reproduzidas a partir dos originais de George Cumberland Júnior e que são as mais divulgadas imagens de Castelo Branco na época (1808-1812). Mostrando-nos uma excelente panorâmica, desenhada certamente a partir da zona da Igreja da Senhora da Piedade, primam pela quantidade de informação nelas contidas e onde se nota o sempre presente carácter romântico e estético da denominada “Escola Inglesa”, nas gravuras desta época. Os dois trabalhos, publicados em diferentes edições da obra de Cumberland Views in Spain and Portugal during the campains of His Grace the Duke of Wellington (1823), embora contenham algumas diferenças de pormenor são, na sua essência, idênticas.(gravura 1)
Este tipo de documentos, aliados às inúmeras descrições e relatos de episódios transcritos nos diários - road-books - e memórias das operações militares e de Inteligência produzidas à época são, sem dúvida, subsídios preciosos para o estudo e compreensão deste período da História da nossa cidade e da região Beirã e repositório de informações a partir das quais nos é permitido, aliado a outras fontes, construir e analisar a vida na Beira Baixa no âmbito das Guerras Peninsulares (vulgo Invasões Francesas). É talvez dos pontos da nossa Historiografia aquele que, salvo excelentes trabalhos de Investigadores locais como são, entre outros, Dr. António L. Pires Nunes ou José Teodoro Prata, um dos menos estudados e mesmo mais “esquecidos” apesar de toda a importância que este período teve na evolução socioeconómica de Portugal em geral e em particular, da Beira. No sentido de acrescentar mais informação e contribuir para a obtenção de alargar os horizontes do estudo, conhecimento e compreensão desse período iniciei uma série de pesquisas em documentos dispersos sobre as Guerras Peninsulares, privilegiando os registos de quantos por aqui passaram, integrados em dispositivos militares ou simplesmente em missões de recolha de informações, testemunhos em publicações de viajantes que percorreram a Península e guardaram as suas observações em relatórios, depois passados a livro. Muitos desses livros são por vezes ilustrados com excelentes trabalho de ilustração que substituíam a então desconhecida fotografia (a primeira fotografia reconhecida remonta a 1826 e é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce), sendo o trabalho de desenhador de importância elevada visto que um debuxo ou um desenho são, como facilmente se compreende, um precioso manancial de informação, a quem os queira ler e interpretar.
No dia 20 de Novembro do corrente mês, assinalam-se os 219 anos da entrada em Castelo Branco, no final de um dia tempestuoso de Outono, dos primeiros contingentes de tropas francesas, com todas as consequências que daí advieram para a cidade e seus habitantes. Depois desse dia, durante um período de quase cinco anos, entre 1087 e 1812, não mais deixaram de por aqui passar ou mesmo permanecer, temporariamente, milhares de militares, alternado consoante as frentes de batalha, franceses, espanhóis e ingleses sobre os quais tanto haverá ainda por dizer acerca da sua estadia por terras Beirãs. Para assinalá-lo é pertinente dar a conhecer aos albicastrenses uma romântica e singela vista que o Coronel Andrew Leith-Hay, do 78 Regimento de Infantaria Inglês, desenhou em meados de 1808 quando se aproximava da cidade de Castelo Branco, muito provavelmente entre a zona da Serra das Olelas (Retaxo) e extremo da actual Zona Industrial. Creio que, até à presente data, esta imagem era pouco conhecida - ou mesmo desconhecida - da maioria de nós e tive a felicidade de a encontrar enquanto pesquisava a vida do autor, o Coronel Hay e suas acções em campanha em Portugal e Espanha. Fica assim este contributo para que se possa acrescentar à listagem dos autores que registaram no séc. XIX imagens da nossa querida Beira, contidos na publicação de José Hormigo e aguardar outras boas surpresas e contributos para ao nossa Memória Colectiva surjam, mais que curiosidades, factos que nos ajudem a compreender aquilo que somos, enquanto herdeiros dos factos de há 219 anos. Esquecer o passado é hipotecar o futuro. (gravura 2)

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