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Cata-ventos: A perna e o passo

Costa Alves - 04/10/2017 - 9:40

Ando muito preocupado com o tamanho da perna e do passo de que o Primeiro-Ministro falou. Problema seriíssimo. Não há nada como ouvir os políticos para ficarmos mais ilustrados. Conseguem transformar lugares-comuns em pérolas; em questões grandes para o nosso mundo  pequeno. Questões para as quais não há filosofia que responda; só eles. Como se viu em mais esta campanha eleitoral, é com conversas deste género que a democracia se enfeita e envaidece.
Para o caso que hoje me traz, o que importa é que dou comigo muito preocupado a medir o comprimento da perna e do passo que ela dá; se é maior o da perna, se o do passo. Confesso que esta (repetente) conversa me parece uma tagarelice de comentadores televisivos. Escreveu (para nada!) Fernando Pessoa, “eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura”. 
Desconfio que querem proibir-nos de sonhar. Diz a voz pública da política que, encontrando um obstáculo, não devemos desembarreirar-nos trepando e saltando, nem muito menos usar o salto com vara ou o salto mortal. E que voar é sacrilégio.
As televisões não se calam. Pisam e repisam: os temas complexos resolvem-se em duas penadas, o arco-íris tem uma só cor, o que é preciso é adivinhar a cor do cavalo branco de Napoleão. Começo a duvidar de quem diz que as galinhas não têm dentes. Então não se está mesmo a ver que o Nelson Évora anda a esticar o passo para além da perna? Mais de 16 metros, além da conta que o Primeiro-Ministro e os comentadores fazem. E olhem que aquilo não é apenas um (triplo) passo; é vento a andar.
Além disso, temos de considerar que “para ir à festa não há perna manca” - diz o povo (que, a mim, não me apanham sem rede!) Não acham que, ao menos de vez em quando, vale a pena não medir o passo consoante a perna? Com franqueza!, vão faltar à festa? Ou só vão às que dão em votos? Acho que a forma de falar dos (como direi?) entretenadores políticos é (aqui para nós que ninguém nos ouve) um bocado pimba. Ora anotem as contradições em que são avezados, sobretudo em campanha eleitoral. 
Quem tem perna curta está tramado – é dado como deficiente e não pode chegar aonde chega o perna longa. E quem tem as pernas cortadas (a maioria), está feito! E há que considerar quem tem a perna a dar passos para trás. Dois anos atrás, era o que acontecia e em passo galopante.
Isto é complexo. Por exemplo, há quem dê um passo num passo e há quem dê muitos no mesmo passo. Atrevo-me até a garantir que a perna não é tão livre como julgamos: “a perna faz o que o joelho quer”, reza a sabedoria dos séculos. Gostava que quem está nas várias esferas de poder tomasse isso em consideração. O joelho, em vez da economia (“estúpido!”), seria o que o Clinton quereria dizer ao Bush.
Também dizia o povo que “cada qual estende a perna até onde tem coberta”. Como há tão poucas cobertas, não podem criar mais desigualdade do que a muita que por aí se estende. E há a considerar, ainda, quem permite que seja a barriga a comandar as pernas. E não só; o vil metal e o apetite pelo poder fazem pernas para que vos quero. E há quem tenha preguiça nas pernas e a esses também responde o ditado: “quem tem preguiça nas pernas, ganha ferrugem nos dentes”.
Como veem, são muitos os casos. O Presidente da República, o Primeiro-Ministro, etc, etc, e as televisões que tanto mandam e comandam, podem vir com a conversa da perna e do passo mas não me convencem. “Quem corre pelo muro não dá passo seguro”; julgo que é por aí que eles andam.
mcosta.alves@gmail.com

 

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