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Cata-Ventos: Alterações climáticas e as árvores que sobem montes

Costa Alves - 25/05/2016 - 11:39

A subida da temperatura está a provocar o deslocamento de várias espécies de árvores para cotas superiores, a fim de poderem sobreviver à subida da temperatura e à diminuição da humidade. Há já trabalhos de investigação que confirmam este movimento migratório e a colonização de novos territórios nas montanhas de algumas regiões de Espanha. São evidências cientificamente sustentadas pela monitorização da evolução de sistemas ecológicos arbóreos em várias regiões. 
Por exemplo, na serra de Guadarrama, a noroeste próximo de Madrid, comprova-se a migração em altitude do pinheiro-silvestre em zonas onde, há 20 anos, não havia florestação e agora crescem bosques. A mesma resposta rápida de adaptação de outras espécies ao aquecimento foi identificada na serra de Urbión, a noroeste de Soria, e também na serra de Gredos, na província de Salamanca. 
Confirmando as tendências avaliadas em zonas de elevado índice de continentalidade, na Comunidade Valenciana, os dados assinalam que a subida da temperatura é mais pronunciada nas zonas interiores de montanha do que no litoral. E, também nesta região, se observa o movimento de subida por parte do pinheiro-silvestre e de outras espécies arbóreas, como a faia que é um bom indicador da diminuição de humidade. O zimbreiro é igualmente sinalizador de evolução da temperatura e têm sido descobertos avanços em altitude desta espécie nas regiões de Teruel, Segóvia e Burgos.
É evidente que a dinâmica de resposta das árvores às alterações climáticas é muito menor do que a da fauna. Já conhecemos bem a mudança de comportamento de aves que vinham invernar no nosso país e agora têm aqui a sua residência permanente. 
Na verdade, embora com uma capacidade de resposta mais lenta e dependente de mais fatores, as árvores também procuram o ambiente atmosférico mais propício e, quando há mudança, mesmo que não muito pronunciada, para outras condições climáticas, também se movimentam numa escala temporal observável por algumas gerações humanas suas contemporâneas. E os últimos 30 anos já registam suficientes sinais de alterações. Recordo que o processo de aquecimento global se estabeleceu na década de 1980 e que os 10 anos mais quentes, desde 1880, ocorreram entre 1998 e 2015, tendo o ano passado ultrapassado o de 2014 como o ano mais quente, ao nível global, nos últimos 136 anos de registos instrumentais.
Por seu lado, na Comunidade da Extremadura, contígua à Beira Baixa e com padrão climático do mesmo tipo, onde abundam árvores da família quercus, como azinheiras e sobreiros, crescem preocupações sobre se, no verão, essas espécies poderão suportar temperaturas ainda mais altas do que as que suportavam. 
Com um maior número de dias com temperatura máxima superior a 40º C e com o aumento da frequência e intensidade das ondas de calor, os prognósticos são reservados. As repercussões destas alterações no aumento da evapotranspiração e na diminuição da humidade e da disponibilidade de água submetem estas espécies a um ainda maior stresse térmico e hídrico. Os especialistas colocam o risco maior na fileira dos sobreiros.
Não sei se há monitorização de alterações deste tipo no nosso país ou, no mínimo, se estão a ser equacionadas. Em Espanha, os centros de investigação das universidades já o fazem em várias regiões. Inclusive, estão definidos cenários de comportamentos previsíveis de 80 espécies de árvores e arbustos a partir dos modelos climáticos de previsão. 
mcosta.alves@gmail.com 

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