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Cata-ventos: Entre Claques e Tornados

Costa Alves - 15/03/2018 - 9:12

Um dos principais canais de televisão informava que o segundo tornado recentemente ocorrido no Algarve foi um furacão de grau 1; presumivelmente porque o Instituto Português do Mar e da Atmosfera o classificou como F1 (segundo grau de intensidade na escala elaborada por Ted Fujita). O jornalista terá intuído que o F só podia conotar-se com furacão e não com um tal Fujita, o cientista nipo-americano que deu o nome à escala que propôs com base nos trabalhos de investigação que realizou sobre os tornados e outros fenómenos severos de microescala, como o “downburst”.
Em 1954, Castelo Branco chamou “tufão” a um tornado que matou 5 pessoas e esventrou parte da cidade mas, na altura, não havia conhecimento para a sua verdadeira caraterização. Já agora, registo a frequência com que, na semana passada, a Comunicação Social classificou o tornado rebaixando-o para “minitornado”. “Mini”? Ai, ai, Comunicação Social! É o que acontece a quem está muito sentado e com tanta pressa que nem a microdistância de um clique consegue percorrer. “Ai os ais deste país…”, assim terminava o poeta Armindo Mendes de Carvalho a sua “Cantiga dos Ais”.
O comportamento anómalo da atmosfera relançou a preocupação pelas alterações climáticas que, em junho, entraram no discurso diário dos responsáveis políticos e das televisões. São assim os poderes da comunicação. Têm de ver para crer. Se não houver desgraças, está tudo bem; não é preciso prevenir o que para eles não existe. 
Recordo que o problema das alterações climáticas foi colocado pelas agências especializadas da ONU, em 1992, na Conferência do Rio de Janeiro. Já se tinha imposto no âmbito estritamente científico e começava a ser socializado. Mas o mundo, e não apenas o nosso país, perdeu mais de 20 anos sem assumir a realidade dos efeitos dos fenómenos associados ao incremento das emissões de gases com efeito atmosférico de estufa.
Precisámos de ficar encurralados por fogos e seca e, agora, pela fúria do mar, pelo peso da neve e pela força apocalítica do vento para içarmos a bandeira do aquecimento global e olharmos estas ocorrências como factos consumados.
FALANGES, CLAQUES E OUTROS DERIVADOS. Não sei se acompanhou as notícias sobre o que se passou num jogo de futsal feminino (futebol dito de salão, embora em pavilhão) entre dois dos “três grandes”; “dois eternos rivais”, como se costuma dizer. A dada altura do “desafio”, uma jogadora cai desamparada no chão e suscita muita preocupação. Uma colega da equipa contrária socorre-a imediatamente e vê-se que sabe do ofício. É médica; médica e jogadora de futebol? Sim e é bonito. Nas bancadas, no reduto da falange de apoio do seu clube, cantam em coro: “Deixa-a morrer! Deixa-a morrer!” Uma outra jogadora pede silêncio aos ânimos demoníacos e recebe hostilidade. Omito a filiação clubista; a desumanidade do fanatismo chega a todas as cores.
Recordo, a propósito, a entrada em Salamanca do general Millán-Astray, em 1936, durante a Guerra Civil de Espanha, aos gritos falangistas de “Viva la muerte! Abajo la inteligência!” A falange era uma formação retangular da infantaria grega antiga que visava exterminar o inimigo. As falanges de hoje usam lanças de “very lights”, “petardos”, “cartilhas”, “apitos dourados”, “toupeiras” e “cânticos” contra os valores de uma sociedade onde os fanáticos são quem mais se faz ouvir. Uns muito incendiados, outros menos, mas, todos com espírito de seita, colaboram com dirigências de tipologia mafiosa.
mcosta.alves@gmail.com

 

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