Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Cata ventos: Factos alternativos

Costa Alves - 16/02/2017 - 11:26

Terá perdido o juízo? Uma casa quase vazia não é uma casa quase vazia. Em dialeto de “facto alternativo”, é uma casa cheia a borbulhar de entusiasmo. Quase todos vemos que o rei vai nu, mas a ordem diretiva de Trump é perentória: transformar factos inconvenientes em ficções que embelezam. 
Portugal é um facto? A esta luz, já não sei. Um retangulozinho cultivado com o suor e as lutas que sabemos, venceu os desmandos da consanguinidade com grande determinação: “De Espanha, nem costumes nem ciúmes”. Houve, depois, tendências iberistas e, mais recentemente, europeístas mas, agora, cuidado!, se a “América Primeiro” assim decidir, uma qualquer Betesga pode ser um Rossio a transbordar. 
Se dos casamentos já estamos livres e dos ventos vamos sofrendo, do Tejo não querem que falemos.  É que, também nas suas águas, a porca torce o rabo. O rio passou a ser como que um poço de águas ludras a escorrer sujidades que ainda anteontem saltavam à vista. O ministro do Ambiente, e mais quem vive na sua corte, prefere os factos alternativos da Celtejo, da Fabrióleo, da Central do Pêgo, das barragens, açudes, e travessões que lá plantaram. Adora os que sujam os factos, propriamente ditos.
Bem sei que há factos alternativos desde que o mundo é mundo. Mas, finalmente, apareceu alguém capaz de puxar os bois pelos nomes. Não é como estes governos de trazer por casa que se mascaram quando são apanhados pela mentira. Este Trump é que tem os coisos da mentira no sítio.  Este chefe nunca se engana, sobretudo quando está a enganar. Ora leiam o que ele diz:
Almaraz? Essa agora! Isso é o que a arraia-miúda tem nos farelos da cabeça. O que importa é o  facto alternativo. A central nuclear não funciona com fissão nuclear mas com fusão, seus analfabetos! Não sobra nada nem expele venenos. É só eletricidade; limpinha. Ai sobra e expele? Não liguem; são inócuos. Deitem-nos ao Tagus e comprem nas lojas da Ivanka! Não vou permitir mais comparações sobre o número de pessoas em frente do Capitólio.
No hospital de Castelo Branco é que são cá dos meus: mandaram comprar pastilhas de iodo. Isto sim, são factos alternativos. Pode Almaraz explodir que, com as tiróides saturadas, já temos Plano de Emergência. Ninguém mais vai tocar no assunto, agora que até botam faladura os presidentes de Câmara e alguns partidos que costumam apanhar boleia a meio da segunda parte ou no tempo de desconto. Os acordeões de Almaraz e do “Nuclear, Não Obrigado” vão deixar de tocar. A coisa vai para a tal Europa que já quase não existe, leva a demorada demora da praxe e, pronto, arranja-se um estudo de impacto transfronteiriço alternativo. Ai, ai, se a “América Primeiro” não existisse, que seria deste mundo?
Agora falo a sério. O meu azedume com os ditados populares está em que só se preocupam com o vento. Bem sei que é simbólico, mas que raio!, por que cargas de água não falam do Tejo? Além de ser mais belo e menos belo que o rio que corre na minha aldeia, é bom para a navegabilidade do césio, do estrôncio, do trítio e até dos peixinhos que sobrevivam aos venenos de Ródão e venham a impancar nos travessões. 
O césio, o estrôncio e o trítio cabem na taloca de um dente, passam qualquer peneira e entram em todas as cadeias alimentares e respiratórias. E se a pele se deixa tocar pelas suas acariciantes mordeduras, deixa cá um bronze... Perguntem a Chernobil e a Fukuchima. Não discutam! São factos alternativos. Que grande filósofo me saiu este Trump! Da mula ruça, pois então! 
mcosta.alves@gmail.com

 

COMENTÁRIOS