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Cata-Ventos: José Pires publica "Travalengas a dobrar"

Costa Alves - 23/06/2016 - 11:11

Em julho do ano passado, este “Cata-Ventos” levou-me ao encontro do livro para crianças “Travalengas”, de José Dias Pires, autor que teve, entre as suas muitas atividades, a de professor de todos os graus de ensino em Castelo Branco. Pois bem, José Pires acaba de publicar mais “travalengas”, como ele chama a estes poemas que contam histórias muito bonitas com ilustrações de Yara Kono.

Vamos então folheá-lo: “Tem a palavra a palavra palavra”! - Ora bem, “se me dão/ a palavra/ tomo a palavra” e, pronto, por aí vai até concluir que “a palavra é um feitiço/ que começa na cabeça/ e escorrega/ na garganta/ até cair no coração./ Depois, sobe corpo acima,/ de mansinho,/ ou de rompante,/ e, num instante,/ faz-se brisa/ ou furacão”.

            Traz “palavras ligeiras” que, “quando o olho não descansa/ na paisagem que ao passar/ cada vez mais, mais depressa,/ vai fugindo ao nosso olhar”, como se estivessem num comboio, fazem “pouca, pouca, pouca terra./ tanta, tanta, tanta terra./ Muita, muita, muita terra”.

            Tem a conversa entre uma formiga e um elefante, tem uma “Osga Pitosga” que foi “ao Oculista Morcego para tratar da vista” e tem “A Soneca da Minhoca” que “foi empurrada por uma enorme enxurrada/ que quis passar,/ apressada,/ para regar o jardim”.

            E também nos vem com uma explicação da teia que, “para a aranha/ sabida/ é mesa de restaurante/ onde lhe poisa/ a comida.” E com a do “Quase”. Vejamos: “Quase sempre/ quase tudo/ ao vizinho é sempre igual:/ Dois ratos são quase três,/ quem se cala é quase mudo,/ um gato é quase leão,/ um pátio é quase quintal,/ noventa são quase cem/ e a farinha é quase pão.” Deixo todas as histórias muito resumidas, como já terá notado. Não tendo muito espaço, que fique a água a crescer na boca.

            Mais uma página e chegam definições dos algarismos (exemplo: “Zero – o silêncio… que nos ajuda a dormir.”); noutra, irrompe uma conversa entre ponteiros em palco de mostrador de relógio. Depois, apreciamos “gostos de gato”: “um gatito bem-disposto,/ um gatito dos pequenos,/ que gosta, assim mais ou menos,/ de gostar do que eu gosto.” Se quiser aprofundar a história, verá que também “finge gostar” com “bigodes de bem-bom”.

            E há histórias de dentes que dantes “serviam apenas para assustar/ quem não tinha dentes: caracóis do cabelo,/ com os dentes dos pentes./ Galinhas e patos,/ com os dentes dos gatos.” Mas, também rangem dentes “de crocodilo, em desalinho”, “de golfinho para pescar” e até de “vampiros, que dão tanto/ trabalho,/ [que até] fugiam,/ com medo,/ dos dentes/ de alho”.

            E também a história do “eco brincalhão/ imitador/ e feliz” que termina com um conselho: “quem quiser/ desabafar/ e guardar/ os seus segredos,/ basta gritá-los/ ao eco/ que se esconde/ entre os rochedos.” Vamos lá experimentar!

Ainda temos “O Gafanhoto Canhoto” que “só salta com o pé direito” e “O Caranguejo Dobradiças” que garante: “Eu até uso um relógio/ no pulso do pé direito,/ e nunca chego atrasado!/ Chego é sempre adiantado,/ e a andar de marcha atrás!”

            São 33 poemas-histórias ou histórias-poemas com títulos como, entre os demais, “Um Mar no Cabelo”; “Cigarra Pouca? Frescura Pouca”; “O Formidável Formigueiro”; e “Na Terra das Vogais e também dos animais” que entra pelo “Comboio AEIOU”.

Como diz José Jorge Letria na capa destas “Travalengas a Dobrar”, “as palavras viajam e ensinam, brincam, divertem e libertam. Nada disso falta neste livro que apetece ter e ler.” É o que continuarei a fazer com os mais pequenos.

mcosta.alves@gmail.com

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