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Cata-ventos: O sol que temos de pagar

Costa Alves - 27/10/2016 - 9:27

Já tinha estranhado muito quando o governo anterior abriu o caminho para diferenciar os montantes a pagar de IMI segundo a orientação e a altura das habitações mas, confesso, a regulamentação criada pelo atual governo causa-me um espanto ainda maior. Para mais, não há indícios de que se tenha baseado num estudo científico sobre o a exposição ao sol e que impactos pode ter.
A primeira questão será sobre se é um bem em si pagar mais por receber mais sol nas nossas habitações. Se vivesse em Londres ou Oslo, talvez pudesse responder. Como vivo na (amaldiçoada pelo Norte) Europa de clima mediterrânico, a resposta tem de ser muito ponderada. Forçosamente, o Sr. Legislador teria de calcular o balanço entre a quantidade de radiação recebida, principalmente no inverno, e a que nos chega durante os nossos verões escaldantes. Tal significaria que, quem habita um edifício situado, por exemplo, num 6º andar, com fachada principal virada a Sul, colheria benefícios durante o inverno e malefícios durante o verão. Se morasse rés-do-chão, sofreria mais no inverno e receberia um bónus no verão, comparativamente com os vizinhos do 6º.
Obviamente, o Sr. Legislador esquece que a maior parte dos edifícios com essa orientação possui também uma fachada oposta que receberá uma quantidade de radiação muito menor. Vice-versa para os que possuem a sua fachada principal voltada a Norte. E bem sei que há cantos e recantos que recebem sol a mais e a menos e, alguns, até nenhum. Isto é tão complexo que não vejo onde possa hospedar a Justiça.
Ora, o Sr. Legislador deveria ter pensado no que se ia meter. Que raio!, a Climatologia ainda se ocupa destes assuntos. E nem falo das propriedades térmicas dos materiais utilizados e do maior ou menor isolamento das habitações que minimizam as trocas de calor com o exterior.
Portanto, os benefícios no período invernal, por exemplo em poupança energética, serão neutralizados pelos efeitos negativos gerados pelo excesso de sol no período estival. Faça as contas e vai ver que, aquecendo no inverno e arrefecendo no verão vai dar, grosso modo, ela por ela.
Por outro lado, não sei se o Sr. Legislador não desejará esmiuçar o seu afã impostor à localização geográfica. Olhe que há regiões mais bafejadas pelo sol do que outras. O número de horas de insolação não é o mesmo em Braga e em Castelo Branco. Não abate nada aos bracarenses? E olhe que os portuenses podem ficar ainda mais zangados, pois recebem menos sol e pagam como se vivessem no Alentejo. Lembre-se de que já comparam o clima da sua região ao de Londres e podem inspirar-se na  marcha de Gandhi pelo acesso público ao sal e desobedecer em busca de igualdade. E, já agora, os Beirões também podem rebelar-se. O excesso de exposição ao calor diminui a esperança de vida e quer, ainda por cima, que a paguem?
Ó Sr. Legislador, olhe que as praias vão ficar desertas. Mais sol, mais paga. Se quiser ser coerente, (coisa que não lhe passa pela cabeça, como temos visto) faça o favor de se organizar e não poupe as praias. Cancro da pele, cataratas precoces, envelhecimento precoce da pele, olhe que esta gente só sabe exagerar. Carregue-lhes. Carregue-lhes com o imposto do sol. Faça-os pagar mais e mais. Se não puderem, que paguem com o que resta dos olhos da cara!
Post Scriptum. Costumamos dizer que só o ar é que ainda não se paga, mas não é verdade. Já pagamos (e muito) pela sua contaminação. O deus-dinheiro mete o nariz em todo o lado.

mcosta.alves@gmail.com

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