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Cata ventos: Sobre a localização da Judiaria de Castelo Branco

Costa Alves - 19/07/2018 - 9:45

O leitor estranhará, porventura, este vento que catei na revista cultural da cidade da Guarda, nº 35 de novembro de 2015 - “Praça Velha” de seu nome. Trago-o para divulgar um artigo assinado por Jorge Martins, historiador e investigador da Universidade Nova de Lisboa e do Laboratório de Estudos Judaicos do ISCSP. O impulso para consumar este meu atrevimento vem do texto intitulado “Localização da Judiaria de Castelo Branco”. 
Sou um simples amador destas problemáticas, mas tenho verificado que a cidade não conhece bem o seu património histórico e não tem um plano que vise saber quem foi e que caminhos quer seguir. Há anos, uma investigação de David de Morais (“Eu, Amato Lusitano”, Edições Colibri, 2011) deitou por terra muitos dos dados avançados em publicações sobre Amato Lusitano. Mergulhando em fontes documentais, testou o que considerou mais relevante, corrigiu muito e adicionou conhecimento sobre a vida do médico que nasceu aqui, em 1511, e que foi quem foi para o mundo e para o avanço da ciência no século XVI.
Senti o mesmo tipo de revolução quando li este texto de Jorge Martins, sintomaticamente publicado numa revista do município da Guarda.
O autor sinalizou o passado de estudo e polémica sobre a localização da Judiaria em Castelo Branco e dissecou teses especulativas construídas com bases em hipóteses sem fundamentações. Estudou documentos de processos instaurados pela Inquisição, em 1583, a cristãos-novos albicastrenses e obteve dados sobre locais de residência e sobre a sinagoga, sinalizada há alguns anos, sem base probatória, como situada no nº 12 da Rua da Misericórdia.
Os documentos de 1593, que Jorge Martins consultou, referenciam a sinagoga na Rua Nova (ainda hoje assim designada), provavelmente situada no sítio da encosta onde se encontra o edifício do Museu Cargaleiro. Recordo que, na altura da sua construção, foi sugerido, sem êxito, que se efetuassem escavações. Escavações que foram tentadas enquanto decorriam as obras na Domus Municipalis, mas sem reconhecimento nem enquadramento institucional, e que, dizem os especialistas, deviam ocorrer em qualquer intervenção na zona histórica intramuralhas. De passagem, deixo uma sugestão à Câmara Municipal de Castelo Branco: por imposição da verdade, retire a placa informativa que colocou à porta da suposta sinagoga do nº 12 da Rua da Misericórdia.
O historiador também tentou definir a área ocupada pela Judiaria com base nas atas da visita da Inquisição de Lisboa a Castelo Branco realizada em 1579. A partir dos dados nelas apresentados, concluiu que, entre as 51 pessoas denunciadas por práticas da religião judaica, 14 residiam na Rua Nova, 6 junto à estalagem então existente fora da muralha, 5 na Rua do Relógio, 4 na Praça Velha e na Rua de Santa Maria e, menos de quatro, nas ruas da Corredoura, do Arco do Bispo, do Saco, do Muro, dos Ferreiros, dos Oleiros, de S. Sebastião e nos Pelames.
Esta distribuição deve ser lida com o cuidado devido às caraterísticas da amostra, mas aponta para uma ocupação diferente da que tem sido descrita. Provavelmente, os cristãos-novos não estariam concentrados numa “judiaria” nem na periferia norte da área amuralhada, como se assinala à entrada da Rua d’Ega. Estariam mais concentrados na zona central da povoação-fortaleza, relativamente miscigenados e, mesmo, com presença fora das muralhas. Aqui tem, leitor, um resumo do texto publicado em 2015 e que já devia ter produzido efeitos.

mcosta.alves@gmail.com

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