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Cata Ventos: Soms sem somtido

Costa Alves - 16/11/2017 - 15:00

Volto a 16 de outubro. Os holofotes já se apagaram, as preocupações são outras, voltaram os soms da rotina.

Que dizer? Um mês passado, ainda ouço o crepitar de árvores afogueadas pelas chamas. Não esqueço o metralhar de aflições.

Já não sei se este bater ensomesmado das teclas a som corresponde. São tantos os soms e tantas as somnoridades que comem do prato do silêncio estilhaçado pelo toque estridente da sirene a clamar por mais bombeiros…

Estamos todos bem servidos de soms e, nestes dias vulcânicos de tantas aflições, acordar é um som estrondente que entra pelas gargantas do somno atormentado.

Os vagidos da revolta contra o acordar são as primeiras labaredas que o dia tem de somportar.

No fundo, no fundo, queremos é dormir fartos de somcalhar por este mundo. Será por causa dos somnhos que não conseguimos ou não nos deixam alcançar?

Ligo o rádio e o som entra por um ouvido e sõa pelo outro. Ainda somnâmbulo, abro a torneira e não ouço o subtil segredar de soms de um ribeiro.

Pelo ralo abaixo, ninguém mais sabe desta água que vem da Marateca/ Santa Águeda (na Lardosa querem o primeiro nome, na Póvoa de Rio de Moinhos querem o outro).

O número de mortos já vai em 22. Terá som o que ouço a seguir? Catalunha, Síria, Coreia do Norte, Trump, ainda restos de eleições autárquicas e futebol e mais futebol em folhetins de insuportáveis perversões do futebol. Som não é certamente, o som não sõa assim.

Há portas que batem e persianas que se acendem. Soms há muitos, mas hoje, 16 de outubro, só escuto os estrépitos das árvores a morrerem de pé e das pessoas que não vivem um bocadinho de céu.

Saio de casa. Não vejo ninguém somridente. E isto é só um começo porque, lá mais para os Jornais da Uma, as somtícias vão rebentar ainda mais insomportáveis. Espero que o número de mortos não aumente. Tento esquecer o que não posso esquecer, mas não irei longe.

Na rua, em passo que quer correr mas não corre, passo pelo passar apressado de quem passa, mas ninguém somri. A porta do carro bate e fica a ressõar na minha cabeça. Por quem posso fazer mais, além de por mim? Somlidões há muitas. O somticiário leva-me para onde não me apetece, mas isto não está para o que apetece e estes soms são mais fortes do que o desejo de fazer o que apetece. Já vai em 27 mortos - não tiveram ajuda para a continuarem a viver.

Há carros que buzinam e alguém que protesta maquilhado de automóvel. As chapas ficam retorcidas, mas que há de fazer-se. Surdos e somrumbáticos, vamos por caminhos que nos levam para onde não sabemos ou não queremos.

Mudo de estação, isto é, zarpo para outras somtonias e por lá fico desassombrado. Aqui, é Maria Bethâmia a sombar, como só ela sabe. Ali, Mozart é uma somfonia; tudo o que somnorizou é um timbre de divinal sompatia pela vida, perseguindo novos mundos somnoros e a alcançando-os. São somnetos que caem do céu. Até me atrevo a pensar que são um sommertime para toda a vida, se é que, a julgar por estes verões do aquecimento global, ainda podemos ter sommertimes para toda a vida.

Aumenta para 32 mortos. Esmago no somzeiro a chatice de mais um cigarro e penso no grilar de um grilo encarcerado numa caixa de fósforos com buraquinhos para somspirar. Era o melhor somporífero que os meus pais davam aos meus 5 anos para dormir mais descansado. Há 16 feridos em estado grave. Já vai em 36 e chegará a 48. O 32º a sair da vida foi um bebé.

(Foi há mês. O leitor perdoará o desvairo das palavras e a desarrumação da grafia.)

mcosta.alves@gmail.com

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