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Centenário das aparições (3): Guerra, segredo, milagre

Florentino Beirão - 20/04/2017 - 11:35

Após analisarmos o ambiente político e sócio- religioso das “aparições”, entremos no âmago do fenómeno, referindo sucintamente os diálogos da Senhora “da voz doce”, na descrição de Lúcia. Tudo se iniciou em 13 de maio de 1917 por volta do meio – dia, quando três crianças analfabetas, após a “Missa das Almas” de domingo, se deslocaram com um pequeno rebanho de ovelhas para a Cova da Iria, a dois quilómetros de Aljustrel, sua terra natal.
Surpreendidos por fortes trovões, quando tentavam o regresso a casa, confessaram ter visto uma Senhora, ainda muito jovem, pousada numa azinheira, vestida de branco, com meias brancas nos pés, saia branca pelos joelhos, brincos, cordão de ouro e com as mãos abertas.
Nos interrogatórios, efetuados pelo pároco de Fátima Manuel Marques e por outros sacerdotes, confidenciaram que a Senhora lhes disse que não tivessem medo, que “vinha do céu” e que queria a sua presença neste lugar, nos próximos seis meses.
Como a I Guerra- Mundial (1914-1918) atormentava as famílias que viram partir os seus filhos para a frente de combate- com saída de milhares, em janeiro de 1917 - Lúcia, muito preocupada, terá perguntado à Senhora “se a guerra ainda vai durar muito tempo”. Porém, a resposta, terá sido evasiva: “Não te posso dizer ainda”. 
Apesar da vidente recomendar aos primos que não espalhassem a notícia, Jacinta, a mais nova com sete anos, que só ouvira os diálogos da Senhora com a Lúcia, não se conteve e foi espalhando o segredo. A nova correu tão célere, que na aparição de 13 de junho, festa do padroeiro Santo António em Fátima, com bodo, já se juntaram cerca de duas dezenas de curiosos na Cova da Iria. Nesta aparição, a Senhora apenas ordenou às crianças que aprendessem a ler. Porém, a mãe de Lúcia não terá facilitado a concretização deste desejo. Como certo, apenas o Francisco frequentou a escola no ano seguinte.
Chegado o 13 de julho, já com 2.000 pessoas presentes, voltou o tema da guerra, solicitando a Senhora a reza do terço para “abrandar a guerra”. Por seu lado, Lúcia terá pedido um sinal milagroso, para as pessoas acreditarem, as melhoras de doentes e a conversão de algumas pessoas. Jacinta por sua vez, ora dizia que ouvia falar a Senhora ora negava. Francisco, um pouco à margem, confessava que não falava nem ouvia. No local, apareceu já um altar, flores e lanternas. A partir desta aparição, as crianças começaram a falar de um suposto segredo.
Por seu lado, a imprensa nacional e regional, agarrou a notícia do acontecimento, esgrimindo ideologicamente com veemência, os seus argumentos pró e contra.
Entretanto as forças republicanas radicais em guerra com a Igreja, perceberam que a situação lhes fugia ao controlo. Para contrariar a já tão elevada adesão de pessoas, o Administrador da Vila de Ourém, Artur Santos, um republicano maçon, às ordens dos camaradas de Lisboa, decidiu em 13 de agosto, raptar as crianças para a sede do concelho e interroga-las. Deste modo, pensava que tiraria algum entusiasmo aos seis mil devotos. O resultado ditou o contrário. Na voz do pai da Jacinta, Pedro Marto, “ficando o povo desesperado”, a revolta das pessoas atingiria uma elevada temperatura.
Como foi impedido o encontro na Cova da Iria, a Senhora terá compensado as crianças com uma nova aparição nos Valinhos em 19 de agosto, perto de Aljustrel. Nesta aparição, a Senhora, respondendo a uma questão levantada pela Lúcia, terá referido que o dinheiro recebido na Cova da Iria deveria ser investido em dois andores para a procissão da Srª.do Rosário em Fátima, e ainda na construção de uma capela no local das aparições.
Chegados a 13 de setembro, a mãe de Lúcia, Maria Rosa, já muito doente, com receio da filha ser molestada, acompanhou-a ao local das aparições. Neste mês, o tema do diálogo regressou novamente à guerra mundial, então ao rubro. A Senhora “para “abrandar a guerra”, pediu aos pastorinhos a reza do terço. Lúcia, já envolvida por cerca de 25 mil pessoas, às quais prometeu um milagre para outubro, intercedeu por alguns doentes e pela conversão de outros. Em 13 de Outubro, dia chuvoso, o centro foi o “milagre do sol - uma roda de fogo a bailar”, atraiu a atenção dos devotos - cerca de 45 mil pessoas, do Algarve ao Minho. A Senhora terá garantido: “a guerra acaba ainda hoje” (terminou em 11.11.1918). Lúcia relatou ainda uma visão onde aparecia S. José, o Menino Jesus e Nosso Senhor, “com barbas pequenas”. A suposta visão despediu-se, rogando às crianças que rezassem o terço e “não ofendam mais a Nosso Senhor”. 

florentinobeirao@hotmail.com

COMENTÁRIOS

José Luz
à muito tempo atrás
Segundo Estatlne escreveu no Pradva, o Congresso de Moscovo de 13 de Outubro de 1917 foi decisivo para que se avançasse para a Revolução Russa cujo Governo daí saído assinou de seguida o decreto da Paz. Seguiu-se de imediato o armistício parcial. Tudo em Outubro e Novembro. Fátima, em 13 de Outubro, foi um sinal para o coração dos homens. Deus escreve direito por linhas tortas. Lúcia não se enganou. O estado de consciência alterada ou o estado dissociativo em que participou permitiu-lhe mais tarde recuperar os factos e as memórias. Mas isto leva-nos a muitas dissertações. «Se se converterem a guerra acabe hoje».