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Crónica: Debita Nostra LXIV

Luís Costa - 22/06/2017 - 9:45

Pelo contrário, a introdução do sistema Taylor orientada corretamente pelos próprios trabalhadores, se forem suficientemente conscientes, será a forma mais segura de garantir no futuro uma redução considerável do dia de trabalho obrigatório (…) uma tarefa que podemos formular mais ou menos nestes termos: seis horas de trabalho físico por dia por cada cidadão adulto e quatro horas de trabalho de administração do Estado.” (Lenine, Obras Completas, tomo 42, pp. 64-65). Identificando-se com o internacionalismo revolucionário, a perspetiva comunista critica naturalmente o reformismo, na medida em que considera que nenhum problema poderá ser resolvido sem uma radical mudança da estrutura social. E é nessa sua coerência que merece ser criticada. Porque, quanto à mudança a que se refere, temos dela suficiente notícia empírica. E porque, quando a ilude, fá-lo apoiando-se na reserva mental e em algumas contradições. Desde logo, a de se escudar num tático reduto reformista para calar como primárias quaisquer críticas à sua estratégia revolucionária. É que, bem vistas as coisas, o Estado-social é o ex-libris do reformismo e o melhor antidoto até hoje conhecido contra a revolução. O mesmo se passa, aliás, quanto à aceitação do liberalismo político. Que um processo revolucionário possa culminar numa democracia, percebe-se. Agora que uma democracia, por mais avançada que seja na sua vocação reformista, desemboque numa revolução, não carece de ser explicado. É claro que mesmo a sua mais generosa abertura reivindicativa nunca poderá ombrear com hipotéticos desígnios revolucionários. E é por isso que, para lá dos seus tiques do quotidiano, importam seguramente mais as demonstrações últimas daqueles desígnios, supostamente alicerçadas no materialismo histórico e dialético. Ora se, quanto ao segundo, já vimos da oportunidade de o não estancar no séc. XIX (DEBITA NOSTRA LXIII), importa agora dizer alguma coisa sobre o primeiro. Como pode acolher que se separe a história que interessa da que não interessa, se tem a prática por critério da verdade ou, como já antes se dizia, pelo fruto que se conhece a árvore?! Como se pode dizer de um sistema, que nas mais diferentes latitudes, culturas e contextos, produziu os mesmos resultados, que foi aqui mal interpretado, que ali teve erros de ‘casting’, se é que não foi o fruto dos irrefreáveis instintos de sinistra personagem!? De fazer inveja à mais coerente filosofia idealista! Agora, quanto à emancipação do trabalho! Como não se coibiu de adotar o expoente máximo da sua desumanização que foi o taylorismo?! Agravado ainda por um tónus de energia, dos que só a crença consegue insuflar, que produziu, ao invés, extremados modelos de trabalho a mais, como o celebrado Alexei Stakhanov?! E, quantos outros exemplos nos dá, esquecendo embora a credibilidade política, de que uma coisa é boa ou má, em função do sítio em que ela está?! Mas lá iremos ao estruturalismo…

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