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Debita Nostra LXV

Luís Costa - 06/07/2017 - 10:09

A libertação de Berlim pelas tropas soviéticas, em Maio de 1945, assinala a vitória dos povos na II Guerra Mundial e a derrota do nazi-fascismo – a mais violenta forma de dominação de classe gerada pelo capitalismo e causa direta da guerra e da morte de dezenas de milhões de seres humanos”. Apelo Comum (Partidos Comunistas) - Nos 70 anos da Vitória sobre o nazi-fascismo, 7 Maio 2015.
Se a inspiração do ‘modelo social europeu’ radica nas preocupações da democracia-cristã do pós-guerra e nas da contemporânea social-democracia europeia, ele teve um outro inegável contributo. O elã reivindicativo que o keynesianismo acolhe, mas que as correntes revolucionárias vieram potenciar. 
E se o colapso da União Soviética, na década de 90 do séc. XX, pretextou uma folgada rédea solta à avidez liberal, isso evidencia também o acautelável contrapeso que, durante anos, ela pode representar. Quer como suporte dos partidos comunistas, em geral, quer como presença institucional, reforçada pela sua parte na vitória aliada da 2.ª guerra mundial. 
Com efeito, a rutura do Pacto germano-soviético e a aliança a oeste (1941), na guerra de 39-45, suscitaram um ambíguo mas palpável reconhecimento da potência emergente da revolução de 1917. E com inegável impacto ao nível de uma empenhada, mas nem sempre bem informada, intelligentzia ocidental. Tal não significa, porém, que a imediata luta política não assentasse em campos bem definidos que o estruturalismo se prestava a demarcar. 
Já para Marx, a estrutura social condicionava toda a atividade humana. Apresentando-se dividida em classes, resultantes do antagónico posicionamento nas relações de produção, definia um conflito, de desfecho fixo, de que dependeria o devir da própria humanidade. Esta perspetiva elegia, assim, um enfoque analítico macro que desvanecia qualquer mais minucioso escrutínio da ação social e política e do seu papel na sedimentação das estruturas sociais. 
E instituía tal conflito como o objeto último a que se reconduzia qualquer relevante análise e intervenção sociais. E a que também cabia não só o protagonismo, mas a legitimidade daquele redentor desfecho e, consequentemente, a sede de todo o critério moral. O mesmo que molda a sensibilidade encanada que é então capaz de optar entre milhões de vitimas.
É difícil não vislumbrar aqui o reflexo da antiga tradição judaica, ou mesmo de um nórdico elitismo, na demarcação do ‘povo escolhido’, a que não falta sequer o toque da predestinação. Nem tanto por Marx ter desvendado o exclusivo da missão salvífica do proletariado, mas pelo subsequente relevo dado à marca de origem. O que permitiu subalternizar todos os que não possuem o indispensável ‘pedigree’, ou atribuir aos intelectuais, os tecelões de toda esta trama, o título honorífico de “consciência do exterior”.
Nesta perspetiva, ganham então relevo as mediterrânicas desavenças de A. Gramsci que contrapunha ao elitismo o conceito de ‘hegemonia’, salientando que, para tal confronto, mais importante do que vencer, seria convencer… 

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