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Debita Nostra LXXXII

Luís Costa - 08/03/2018 - 10:08

"De facto, outros trabalhos, que consideram períodos mais longos e mais diversos pontos de vista, avançam diferentes avaliações. Um livro editado por Marie-Thérese Bitsch, Wilfried Loth e Charles Barthel, por exemplo, identifica a fase histórica do acesso de cada estado à atual UE, como o elemento-chave que determina a simpatia dos cidadãos face à integração europeia.” (Tradução livre de Lorenzo Mechi, 2010, “Formation of a European Society? Exploring Social and Cultural Dimensions).
Se o populismo se caracteriza pelo manejo do que agrada para suscitar em certo “povo” uma determinada reação política, a controversa declaração de J. Dijsselbloem, sobre os países do Sul (Debita Nostra, LXXXI), é inequivocamente populista. Independentemente do seu real fundamento que, creio, resistiria bem a uma rigorosa avaliação do uso dos dinheiros europeus, sobretudo em período de “vacas gordas”.
Demonstrando também uma desigual distribuição social do seu ‘benefício líquido’, com inevitáveis consequências na dita “simpatia dos cidadãos” e na sua atual sensação de insegurança perante a deterioração do chamado “modelo social europeu”. A que haveria que acrescentar outros fatores, decorrentes da situação específica de cada país, da respetiva fase de adesão à UE e da correspondente tónica dominante, ao nível das políticas europeias.
No Reino Unido, por exemplo, onde vigora o submodelo anglo-saxónico (Debita Nostra LXXII) que sempre resistiu ao alargamento das políticas sociais, de há muito que Tatcher acantonou os depreciados “chavs”, sendo agora a classe média, a expectante beneficiária do seu “capitalismo popular”, que se sente ameaçada.
Já para leste, os mais recentes detentores da promissória europeia, apercebem-na disputada por vagas de refugiados, cuja necessidade de acolhimento dificilmente compreendem. E, para sul, o ‘incómodo’ refugiados ainda mal faz esquecer a ‘traição’ de quem preferiu salvaguardar as próprias instituições de crédito a apontar-lhes os requebros da dívida, pondo em causa um tardio e remediado submodelo social.
É que um novo contexto de correlação de forças vem, desde os anos 80, recuperando a receita contra a qual, na Europa, se ergueu um “modelo social” de inspiração keynesiana. Não pela prescrita ‘modernidade’ liberal (séc. XVIII), mas pelo que ela ganhou de alento com o desaire de supostas alternativas e se sofisticou, cumprindo, agora à escala global, a mesma tarefa de concentração do rendimento. 
Com sobeja pujança e tais laivos de axiomática inevitabilidade que roçam o pensamento único, apesar das suas já experimentadas, recorrentes e desastrosas sequelas sociais (Debita Nostra XLIV a XLVIII). E se é um proscrito Estado-social que ainda lhe apara o golpe e se constitui como derradeiro reduto defensivo, é ainda na Europa que, em precária escala, ele resiste, demarcando-a como campo de disputa. 
É neste contexto que importa apurar as razões da (in)diferença às diferentes cambiantes políticas que atravessaram o projeto europeu, ou por que se aparenta pretender resguardar e reagrupar o “povo” em devassadas fronteiras.

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