Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Cultura: Obra de Martins Correia exposta no ex-edifício dos CTT

José Júlio Cruz - 26/04/2017 - 14:58

É conhecido em Castelo Branco por ser o autor da estátua de Amato Lusitano. Mas o seu trabalho é mais vasto e reconhecido internacionalmente. Merece uma visita.

Partilhar:

A filha do autor com os autarcas de Castelo Branco e da Golegã. FOTO JORNAL RECONQUISTA

Está patente até final de maio no antigo edifício dos CTT em Castelo Branco uma exposição de trabalhos de Martins Correia. Intitulada "É preciso muito tempo para se aprender a ser jovem", uma frase de Pablo Picasso que lhe dá o mote, esta exposição foi inaugurada no passado sábado pelos presidentes das câmaras de Castelo Branco e da Golegã, município onde está instalado o Museu Martins Correia que, em parceria com estas entidades, abriu portas à realização desta exposição na cidade albicastrense.

"A cultura cria pontes", realçou Luís Correia no momento inaugural, esclarecendo que "esta é uma exposição que muito nos honra, na medida em que o seu autor é uma pessoa que nos diz muito". O edil albicastrense reforçou que "apresentar a obra de Martins Correia em Castelo Branco é algo que aquece o coração dos albicastrenses" e que, por essa razão, "foi com muito gosto que colaborámos com a Câmara da Golegã para conseguir criar este evento no nosso concelho, o que mereceu por parte desta a maior das aberturas desde a primeira hora".

Rui Manuel Duarte, presidente do município da Golegã, fortaleceu o aspeto de parceria entre ambas as autarquias, realçando por outro lado que "dar a conhecer e a descobrir esta importante obra é mais uma oportunidade para o nosso museu sair de portas e vir ao encontro das pessoas, sendo que a presença das obras deste autor em Castelo Branco para além do mais faz todo o sentido".

A filha de Martins Correia também marcou presença neste evento, tendo agradecido emocionada "a ambos os autarcas a oportunidade". "Eu acho que o meu pai de facto está aqui", sublinhou Elsa Correia, deixando para a comissária da exposição, Maria João Fernandes, a explicação da mostra em si e da abordagem mais especializada à obra de Martins Correia.

Tal como o Reconquista já tinha publicado aquando da notícia de lançamento desta exposição do autor da estátua de Amato Lusitano, a obra de Martins Correia (1910-1999), cujo nome marcou a segunda metade do século XX, é propriedade do município da Golegã, a quem compete a respetiva gestão. Esta exposição tem como comissária a crítica de arte Maria João Fernandes, da AICA - Associação Internacional de Críticos de Arte.

Amato Lusitano (1511-1568), nascido em Castelo Branco e humanista de renome europeu, verdadeiro ícone da cidade albicastrense, é assim uma das marcas que o artista deixou. Mas, a exposição “É preciso muito tempo para aprender a ser jovem” (Picasso) - O Museu Martins Correia Visita Castelo Branco”, reúne mais de uma centena de obras deste mestre, entre desenho, pintura, escultura e cerâmica, das quais faz parte um conjunto de desenhos inéditos da coleção da filha Elsa, com o tema do nu.

A exposição tem cinco capítulos, nomeadamente “Rostos no Tempo”, “O Povo de Amor Cantava”, “O Ciclo do Cavalo”, “O Poema do Corpo” e “O Estilo e as Formas, Síntese Plástica”, que "permitem uma visão de conjunto coerente e diversificada desta obra marcante da escultura e da arte portuguesa contemporânea e a sua releitura, levada a cabo no texto de apresentação de autoria de Maria João Fernandes", como na altura ficou expresso nas páginas deste semanário.

A comissária, que também interveio no momento inaugural do passado sábado, sublinha entretanto que "o génio e a singularidade de Martins Correia e a sua criação de um estilo original que liga as formas e os símbolos, promovendo (nas suas palavras) uma espécie de arqueologia do imaginário em relação com a arte primitiva, a exemplo do que aconteceu com os arautos da modernidade num plano internacional, nomeadamente com Picasso, autor da frase que serviu de mote à mostra, que Martins Correia desenhou e tinha inscrita na parede do seu atelier".

A obra do artista é comparada por Maria João Fernandes à de Picasso, tendo também mergulhado "na arte do passado para dela extrair a novidade de um estilo único. A arte egípcia, a etrusca, a arte grega e a romana no seu caso, na policromia e no hieratismo intenso das formas, deixaram as suas marcas numa gramática que se impõe pela absoluta modernidade e singularidade no assumido vínculo a movimentos do século XX como o expressionismo e o construtivismo e desenvolvendo uma estética do fragmento que mimetiza a erosão das formas por efeito do tempo, grande protagonista deste percurso".

COMENTÁRIOS