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Debita Nostra LXXXIV

Luís Costa - 05/04/2018 - 9:00

Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. (…) O isolamento nacional e os antagonismos entre os povos desaparecem de dia para dia com o desenvolvimento da burguesia, a liberdade de comércio e o mercado mundial, com a uniformidade da produção industrial e as condições de existência que lhe correspondem.” (Marx e Engels, “Manifesto do Partido Comunista”, 1848).

Sendo hoje diversamente aceite que, perante o “capital estrangeiro”, não se olha a pátrias (A. Lobo Xavier, jornal I, 05-02-18), estranho seria pretender enfrentar os desmandos da globalização financeira cerrando fronteiras, no uso dos parcos recursos de um encolhido Estado-nação. E, mais ainda, tirando partido de “antagonismos entre os povos” com uma diferente capacidade política, não a aproveitando para superação dos problemas comuns, como o da crise do Estado-social.

Ora, tal pode fazer-se no pressuposto, ou num seu ato reflexo, de que a identitária “questão nacional” seria circunstancialmente útil a um mais geral enfrentamento do “imperialismo” (DEBITA NOSTRA LXXXIII). E de que este, apesar da atual difusão dos centros de decisão económico-financeira, teria assente arraiais na Europa, para desconforto dos povos europeus. 

Sobretudo, quando inspirado num redutor traçado de dois hemisférios, com que o estruturalismo revolucionário divide o globo, remetendo para o seu “dark side” qualquer escrutável forma de União Europeia, mesmo que sob moldes ‘suspeitamente’ desfavoráveis a imperialismos. 

Mas postergando, contraditoriamente, a sua ‘canónica’ luta de classes: já quando ignora os fenómenos de proletarização do próprio hemisfério; já quando des(espera) pelo sumido proletariado europeu, ainda que rebuscado no mais heterogéneo mundo do trabalho. 

É que, embora os erros humanos sejam recorrentes, a história nunca se repete porque sempre lhe faltam as iguais condições de contexto. E, apesar de o liberalismo ter hoje reavivado a pulsão predadora com que um dia despoletou a “questão social” (DEBITA NOSTRA XLIV a XLVIII), os resultados estão longe de ser os mesmos.

A globalização económica retirou da extrema miséria alguns povos, incluindo parte daquele seu proletariado, deixando à Europa um rol de aflitos que melhor se acolhe a originais nacionalismos que a qualquer sua pervertida cópia. E os beneficiários de um “generoso” Estado-social foram adquirindo os tiques de uma ‘pouco fiável’ classe média. A mesma que agora se insurge contra a anunciada depreciação dos seus ‘herdeiros, vítimas de uma inusitada precarização. Mas com decisivas capacidades que se não revêm nas mais tradicionais e formatadas receitas do inconformismo.

Não se vislumbra, então, com quem se cumpriria aqui o internacionalismo proletário, mas sim a emergência de serôdios nacionalismos que, por sistema, recusam um tão raro quanto “precário” espaço de “democracia regional” (Habermas, DEBITA NOSTRA LXX).

O que fica por saber, é como irá reagir o novel, apetrechado e acrescido “precariado” a tanta precariedade, a da democracia que lhe foi dado conhecer.

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