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Debita Nostra XXXV

Luís Costa - 21/04/2016 - 9:30

“Temos de entender com clareza que toda a ação eticamente orientada se pode encontrar sujeita a duas máximas completamente diferentes uma da outra e irremediavelmente opostas: (…) Mas há um contraste abissal entre agir em conformidade com as máximas próprias da ética da convicção (…) ou agir consoante as da ética da responsabilidade, as quais estipulam que uma pessoa tem de responder pelas consequências (previsíveis) da sua ação.” (Max Weber, “A Política como Profissão”, 1919)

Qualquer criança que se possa ter proposto o objetivo de alcançar a almejada prenda de Natal, já, por certo, intuiu o que é hoje um dado corrente da linguística: todo o discurso é uma estratégia. Não há assim razão para que o não façam também todos os que efetivamente pretendam fazer face à secular teia em que nos enredámos: a da dívida soberana. E muito menos os que estão convictos que disso depende a possibilidade do nosso desafogo humano.

Só que, fazê-lo, supõe a empenhada procura da sua forma menos gravosa e, necessariamente, a capacidade de equacionar uma questão ética que, por mais subestimada, nem por isso é menos central na atividade política: a da conjugação entre ética da convicção e ética da responsabilidade.

Nem o mais romântico revolucionário se proporia sair da clandestinidade para se postar em frente da polícia a clamar as suas convicções, nem o mais empedernido reacionário suportaria que o aniquilassem, como um mal menor, para o regresso “status quo ante”. A dúvida seria sempre a de saber até onde é que se pode transigir.

E complicar-se-ia ainda, pelo facto de, na prática corrente, as convicções se poderem travestir de responsabilidade e a (ir)responsabilidade das correspondentes convicções. Se procurarmos afastar alguma da areia com que sempre se nos tolda o olhar, não é difícil constatá-lo, independentemente do reconhecimento de que tais posições se sustentam em significativas bases sociais de apoio.

Por um lado, as nossas políticas de empobrecimento foram assumidas e deliberadamente praticadas em nome de uma genuína convicção. E não há possível confusão entre aquilo que se faz por desejo ou por a isso se ser obrigado. Por outro, a convicta recusa de funções governativas, por parte dos que integram a atual maioria parlamentar, resulta de uma avaliação das consequências ou do que já foi acontecendo às suas congéneres forças políticas.

Ora, em política, a convicção sem responsabilidade é palavra vã, já porque não deixa de haver consequências políticas da escolha da exclusiva convicção, já porque, ao contrário do que possa parecer da citação de M. Weber, a duas éticas (convicção ou responsabilidade) não são incompatíveis. As consequências previsíveis da ação (ou da omissão) podem sempre ser medidas em função da aproximação, ou não, àquilo que é a real convicção.

E é aqui que as subterrâneas lógicas, reformista ou revolucionária, se incompatibilizam, mesmo que uma ética da responsabilidade tenha levado à atual secundarização da forma do discurso revolucionário. Mas, se todo o discurso é uma estratégia, qual é o que, no presente contexto, melhor serve a libertação da dívida?!

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