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Digressões Interiores: Gosto de plantar árvores

José Lourenço Roque - 09/03/2017 - 8:00

Passou há muito o “Dia dos Namorados”, o dia das orquídeas e das rosas vermelhas, das palavras doces e desmedidas. Palavras que perduram mesmo quando fogem e se perdem. 

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Passou há muito o “Dia dos Namorados”, o dia das orquídeas e das rosas vermelhas, das palavras doces e desmedidas. Palavras que perduram mesmo quando fogem e se perdem. Há cidades onde as paixões são eternas. Para ver mulheres bonitas não há terra igual a Coimbra. Digo eu, mas felizmente há-as em todo o lado e os gémeos por certo diriam: Vila Velha de Ródão, Retaxo e Castelo Branco. Nunca fui muito dado a “piropos”, mas daquela vez acho que me saí bem. Muitos anos atrás, na pastelaria mildoce, pedi a uma das empregadas que me trouxesse um cinzeiro. Ao trazer-mo fixou-me com olhar atrevido e disse-me em voz melada: “Não fume, fumar mata”. Ainda me lembro do seu sorriso comprometido quando lhe respondi: "Os seus olhos é que me matam…". Quem lê as minhas digressões, lembrar-se-á que já tenho criticado o comodismo ou a inércia que vigoram em muitas aldeias. Pessoas ainda novas consomem o tempo em mexericos, lamentações, festanças ou doideiras. Hoje dou a mão à palmatória para assinalar o rasgo empresarial de duas senhoras dos Calvos que de modo resoluto se abalançaram na criação de um “Salão de Alta Costura”. Com página no facebook e no twitter, foi tal o sucesso e tamanha a freguesia que já puseram anúncio no jornal a pedir empregadas e aprendizes. Não perdem tempo com telenovelas mas, para que haja mais alegria no trabalho, ao serão passam músicas de artistas locais, artistas famosos do canto e do assobio, do género “… nos peitos da cabritinha…”. Além das “costureirinhas”, merecem realce alguns vizinhos que “tratam os engenheiros por tu…”. Outros tocam grandes cabradas ou ovelhadas. Disse-me um deles, bom em contas, que para chegar às 100 cabeças só lhe faltam 98. É por estas e por outras que os Calvos continuam a dar cartas, apesar de quase despovoados. O João Morgado levou as galinhas e aquartelou-se em Castelo Branco em boas companhias. Está em curso a safra dos tortulhos, mas este ano a coisa esteve preta. As licenças da Câmara não param de subir. O Rafael da Idalina e outros mais, feitos com os fiscais devido às patuscadas e por serem do Benfica, nem licença tiram. Além disso, ouvi dizer que o Rafael instalou uma nova aplicação no telemóvel que o leva direitinho às rógadelas. Por este andar, bem posso dizer adeus ao negócio do ano passado e deitar-me ao sol a escutar o cuco. Gosto de plantar árvores. Ainda antes da feira de Fevereiro nas Sarzedas, famosa nesta área, abasteci-me na D. Fátima e no senhor Eduardo. Plantei-as, em dia de sol e chuva, na baixa do Vale dos Cavalos, longe das laranjeiras, nos mesmos sítios onde outrora havia duas belas figueiras que carregavam de figos pretos ou alvares. Plantei dois pessegueiros, um diospireiro, uma figueira e um damasqueiro. Oxalá peguem bem e cresçam depressa, a tempo de partilharmos a doçura original dos primeiros frutos. Gosto de plantar árvores. São testemunhos que ficam, sinais dos antepassados, livros abertos da natureza. Ramos de esperança onde pousam e cantam as aves das manhãs azuis, projecções do futuro mesmo quando o futuro acabar… Estava escrito que não terminaria sem uma nota de grande tristeza pelo falecimento do Ti “Zé Mantino” (José Nunes Lourenço), a 22 de fevereiro. Deixou bons exemplos, muitas saudades e lições de vida. Partiu ao encontro da luz infinita na plenitude da misericórdia divina.

 

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