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Digressões Interiores: Lá prós lados do Ponsul

José Lourenço Roque - 27/07/2017 - 12:24

Retomo as cavalarias e os afectos do costume, desta vez com o pensamento nos Lentiscais. Nos tempos que correm, pouco dados a gestos simples e tocantes, é bom reconhecer que ainda há pessoas gentis e generosas que nos dirigem boas palavras mesmo sem nos conhecerem.

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Retomo as cavalarias e os afectos do costume, desta vez com o pensamento nos Lentiscais. Nos tempos que correm, pouco dados a gestos simples e tocantes, é bom reconhecer que ainda há pessoas gentis e generosas que nos dirigem boas palavras mesmo sem nos conhecerem. Foi o caso do Senhor José Correia Dias que me escreveu de Agualva-Cacém para testemunhar que lê e aprecia as minhas “Digressões”. Fiquei a saber que é natural dos Lentiscais e que, antes de rumar para a região de Lisboa, certamente à procura de melhores vidas e horizontes, foi ganhão nos montes do rio Ponsul. Confessou depois que ainda se lembra de aos 16 anos ter ido como zagal para o Alentejo com o rebanho do pai e de lhe chamarem o “filho do ratinho”. Acudiu-me à memória e à voz aquela bonita cantiga alentejana: “Quando eu era ganhão lá prós lados de Portel”. Imaginei logo outra versão e pareceu-me ouvir alguém cantar “Quando eu era ganhão lá prós lados do Ponsul…”. Gostei muito dos Lentiscais na primeira vez em que lá fui, pelo casamento do primo Miguel das Teixugueiras. Gostei ainda mais quando te levei comigo naquele Verão já distante através das maravilhosas paisagens que tanto nos encantaram. Esquecidas ficaram outras promessas e tentações, com grande pena minha. Nunca soube como teria sido descobrir ali a Primavera dos desejos e dos rosmaninhos floridos, na doce companhia daquela amiga de Coimbra, professora em Castelo Branco. Já não há ganhões nas margens do rio Ponsul, nem em banda nenhuma. Quem me dera ter sido ganhão nas lavouras dos meus pais e tu mondadeira de sonhos e palavras, sempre a meu lado nas searas da nossa vida. Que roda esta, concluo outra vez com uma palavra de grande pesar pelo falecimento do Nuno da Conceição Lourenço, a 14 de Março, cuja memória evoco com respeito e saudade. Custa dizer e sentir: nunca mais voltaremos ao “café do Nuno” da Lomba Chã. Lembro também a prima Conceição Nunes Almeida, pessoa muito bondosa e trabalhadora, falecida no dia seguinte. Há muitos anos que a não via, ao recordá-la parece-me que ainda a “vejo” rapariga alegre e formosa no balcão da casa dos seus pais…

João Lourenço Roque

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