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Digressões Interiores: São tuas as rosas do meu quintal

João Lourenço Roque - 21/06/2018 - 8:00

A vida tem que ser vivida olhando para a frente, mas sem esquecer o passado. 

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A vida tem que ser vivida olhando para a frente, mas sem esquecer o passado. De outro modo, nunca saberemos quem somos. Apenas caminhantes sem caminho. Quem diria que nos últimos anos me tem cabido o papel de contribuir para a preservação de antiquíssimas tradições rurais. Este ano, uma vez mais, foi graças a mim e à Otília, ajudados pelo Manuel, que se assinalou a celebração das “maias”, no dia 30 de Abril, enfeitando as portas das casas, antes do por do sol, com ramos compostos de espigas, coroas de rei, trovisco, rosmaninho, folhas de oliveira, de sobreiro e de azinheira. Ramos-colhidos na natureza exuberante, florida e renovada – destinados a derramar as trovoadas, no caso do trovisco, e a propiciar abundância de frutos e boas colheitas de cereais, azeite e mel. Disseram-me que a Maria dos Santos e o Eugénio, especialistas em telemóveis e internet, “eternizaram” este gestos e momentos efémeros, enviando para o facebook algumas imagens que “correram mundo”, pelo menos entre os Calvos e Lisboa. Lembrámo-nos das “maias”, lembrei-me do “dia da espiga” (este ano a 10 de Maio) através desta quadra das “moças” alentejanas: “O anel que tu me deste/ quinta-feira da Ascensão/ fica-me largo no dedo/ apertado no coração”. Tantos gostos e desgostos no mês de Maio, tantas lembranças e recordações. Chegadas e partidas silenciosas, às vezes sem o conforto de qualquer palavra ou esperança. Lembrei-me de ti, lembrei-me de vós. São tuas, são vossas, as rosas do meu quintal…

Em Maio tantos gostos e desgostos, repito. Por aqui, o gosto maior e mais recente talvez aquele encontro inesperado na “feira medieval” das Sarzedas (a 19 e 20 de Maio) que, de ano para ano, cresce em fama, proveitos e maravilhas. Perdi-me nas palavras vivas, autênticas, da Presidente, Dr.ª. Celeste Rodrigues, e nos sons encantadores das violas beiroas. Perdi-me nos feitiços de algumas “donzelas” e nos véus das dançarinas. Perdi-me em tantos sabores e tentações. Adorei as “broas de mel” dos Vilares de Baixo, as filhós e o pão de trigo da Guiomar de São Domingos. Petisquei javali dos Calvos e das Versadas... Por momentos “fiz figura” ao lado da Ana Paula e do meu irmão, ou junto da “comitiva presidencial”.

e vergonha sem nome, o que se passa no Sporting apostado em coleccionar falhanços, desvarios, culpas ou desculpas e chacotas. Nem a Nossa Senhora de Fátima lhe vale e acode. No dia 13 de Maio, a derrota com o Marítimo e o adeus ao segundo lugar e à “liga milionária”. Quase de seguida, os terríveis e chocantes episódios em Alcochete, com a criminosa e bárbara invasão da Academia, a derrota no Jamor a 20 de Maio. Dizem muitos sportinguistas, envergonhados e estupefactos, “ Isto não é o Sporting…”. Também eu, que desde menino comungo da paixão sportinguista, assim penso e sinto, mas prevejo que o Sporting não será mais que “isto” enquanto Bruno de Carvalho, guerrilheiro insensato e incompetente, continuar “dono” do clube, com a conivência ou a passividade de grande parte da “família sportinguista” que aceita tudo de braços cruzados em vez de se levantar e correr com quem envergonha e destrói o Sporting, para gaudio e proveito dos benfiquistas.

Há centenários e centenários. O maior dos que se comemoram em 2018 é o fim da “Grande Guerra” com o armistício de Novembro de 1918. Conflito horroroso e devastador que sacrificou milhões de jovens (a “geração perdida”) e fez ruir o “mundo tradicional”, alterando profundamente o quadro geopolítico mundial e as sociedades europeias. A tal ponto e de tal modo que, na perspetiva de alguns historiadores, a primeira guerra mundial constitui a “fronteira” histórica entre dois séculos e representa a “certidão de nascimento” do século XX. Às tragédias e hecatombes da guerra, adicionou-se o pesadelo da doença e da morte trazido pela “pneumónica” ou “gripe espanhola” – também ela com 100 anos feitos – que “varreu o mundo de março de 1918 a agosto de 1919”, causando mais de 20 milhões de vítimas em todo o mundo. No caso de Portugal, terá sido importada por trabalhadores sazonais portugueses em Badajoz e Olivença. O primeiro caso surgiu em Vila Viçosa e o contágio espalhou-se depois pelo país, vitimando mais de 60 mil pessoas principalmente jovens, entre eles os videntes de Fátima, Francisco e Jacinta. A epidemia correu “o país a uma grande velocidade, tanto assim que a falta de caixões para os funerais foi um dos resultados imediatos, o que fazia com que muitas famílias os comprassem por antecipação e guardassem debaixo das camas onde os seus membros agonizavam” (João Céu e Silva, DN, de 17/3/2018).

Em cada Verão que chega espero por ti à sombra do limoeiro ou nas páginas do último romance. De longe em longe caem no telemóvel estranhas mensagens. Algumas, mal consigo decifrá-las. Outras, avivam-me a memória e empurram-me para os anos da minha infância como se a infância fosse a vida toda: ”Um dia abri a porta da minha casa. Entraste com a tua mãe e lá ficaste”. Não sei porque nunca mais voltei à tua casa…ou à nossa praia. Talvez porque há muito que o mar levou todos os passos e instantes que ali deixámos. Sem ti, caminho sem saber quem sou, perdido nos silêncios ou nos gritos das palavras. Ainda te espero, à sombra do limoeiro ou nos sons da viola beiroa. Perto e longe da luz repentina do nosso primeiro encontro e do teu corpo perfumado. Outros perfumes, outras lembranças, nas rosas do meu quintal…

fugiu para que Junho viesse e o sol abrisse, mais radioso e insistente no teu rosto e nos teus cabelos. Outros gostos e memórias: Aquela tarde inesquecível em Lisboa, no “Parque das Nações”, com o João Filipe, o Xavier e a Sara. Aquela tarde festiva e memorável na Lomba Chã, a 17 de Junho, no antigo e deslumbrante povoado - donde se avista quase tudo, quase nada -, com a inauguração da “Praça Dr.ª Celeste Rodrigues”, onde ainda permanece o “sobrado de costura da Ti Maria Pomba”. Belos discursos, comida farta e deliciosa. Alegria a rodos ao som das concertinas. Aquela tarde, no passado e no futuro, à beira do velho forno recuperado. De pequenas e de grandes coisas se faz a nossa história e a nossa identidade. Desta vez no coração da Lomba Chã.

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