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No tempo da robotização

Florentino Beirão - 21/09/2017 - 9:33

Como nos demonstra a ciência, a evolução dos hominídeos, ao longo de milhões de anos, tem sofrido profundas alterações, físicas e cognitivas. Iniciemos esta fascinante e desafiadora viagem pelo primitivo australopitecus que, em África, começou a desenvolver a locomoção bípede, há cerca de 4 milhões de anos, final do paleolítico inferior. Passados cerca de mais dois milhões de anos, a evolução originou o “homo habilis” - paleolítico médio- que desenvolveu a capacidade de fazer instrumentos de diversas formas e materiais (bifaces), para melhorar a sua vida. A invenção de engenhosas armadilhas, para otimizar as suas caçadas, foi a sua grande conquista. Também a necessidade de se alimentar melhor, levou-o a expandir-se para a Europa e para a Ásia. 
Por sua vez, o “homo sapiens”, (cro-magnon), continuando a viver da caça ,raízes e frutos silvestres, dotado de maior porte físico, viveu há cerca de 100 mil anos. Com capacidade de criar novos instrumentos de caça, com técnicas mais evoluídas sepultando os seus mortos, em espaços apropriados. Desde há de cerca de 2 milhões de anos atrás, até há 10 mil anos, existiram, simultaneamente, várias espécies humanas, nomeadamente o “homo de Neandertal”, que ocupou, há cerca de 500 mil anos, o nosso território.
Esta contínua evolução dos hominídeos desembocou no “homo sapiens- sapiens”, o homem atual, (c.35 mil a.C.), fruto de um longo e complexo processo evolutivo, físico e cognitivo. O homo sapiens-sapiens europeu continuou a aperfeiçoar tecnicamente os instrumentos de caça, usando ossos, madeira e pedra para fazer flechas, zagaias e dardos, a fim de caçar animais já de maior porte. Nesta altura, nas escavações, aparecem pequenos objetos artísticos de adorno. Dotado de elevado sentido artístico, deixou pintado gravuras coloridas em grutas (Lascaux c.15.000 e Altamira c.13.000 a.C) e norte de África. Em vastos conjuntos rochosos, junto aos rios, desenhou figuras dos animais que caçava (Foz Côa). Tudo representado com imenso naturalismo. Também as artísticas estatuetas, criadas neste período, atestam bem a presença do caracter simbólico e mágico-religioso nas suas vidas comunitárias.
De caçador pré-histórico, nómada, seguindo a caça, a hominização desembocou na sedentarização, agarrando o homem à terra- mãe, à agricultura. A este período da história se dá o nome de neolítico. Com a sedentarização, deu-se origem ao aparecimento da escrita, no médio-oriente (c.4.000 a.C) e, com esta, se saía da pré-história e se iniciava a História. Como verificámos as mudanças levaram milhões de anos a acontecer no longo processo da hominização. Quanto a nós, o que há de novo na evolução do homem dos nossos dias, é viver uma época marcada por aceleradas transformações no seu modo de vida, provocada pela tecnologia que invadiu todas as áreas. Assistimos hoje à robotização das atividades produtivas e ao predomínio das áreas financeiras. Ao crescimento das cidades e dos serviços, em desfavor da indústria e da agricultura bem como ao crescimento do comércio “online”. Verifica-se ainda a restruturação do conceito de família e a confusão entre o virtual e o real.
Neste início do séc. XXI, vendo bem, o que mais ressalta na mudança da vida do homem é o aspeto do entretenimento, através das novas tecnologias. Como se observa diariamente, desde as crianças de tenra idade, como jovens e cada vez mais adultos, se encontram, permanentemente, entretidos com os seus aparelhos tecnológicos, não desviando deles a sua dependente atenção, por vezes, já alienada e anestesiada. Telemóveis, com diversas aplicações, dispositivos criados para jogos, redes sociais em alta, televisão alienadora, com telenovelas, concursos e futebol a toda a hora.…Todo um mundo virtual que distrai, absorve e encanta, não deixando espaço substancial para a reflexão e o diálogo entre gerações.
No centro deste fenómeno mediático está a omnipresente e absorvente internet onde se encontra já tudo pronto a ser consumido. Um fundo de informação incalculável. Para o bem e para o mal. Uma máquina virtual de entretimento, jamais concebida. Não há nada que aqui não se possa encontrar. Desde vídeos e jogos, moda, música, jardinagem, dietas, negócios, festas e viagens... Tudo à nossa mão, num abrir e fechar de olhos.
O homem atual passou assim, cada vez mais, a ver o mundo, não na sua globalidade real, mas através de um ecran: telemóvel-televisão-fotografia. Viva as “selfies”! Entretêm a malta e não fazem mal.
florentinobeirao@hotmail.com

 

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