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O regresso dos nacionalismos

Florentino Beirão - 30/06/2016 - 15:01

Se já sabíamos que o nacionalismo estava de volta à Europa, agora com a saída do Reino Unido, através do referendo da semana passada, os britânicos confirmaram esta realidade.

Os indícios de que alguns países da União Europeia, face à invasão de povos esmagados pela guerra, se começaram a trancar com arame farpado, era já um sintoma desta realidade. A história tem destas coisas. Esquecendo que as Grandes Guerras do séc. XX foram em grande parte, provocadas por movimentos fascistas e nazis visceralmente nacionalistas, a Europa parece fazer agora neste aspeto, marcha atrás. Como todos sabemos que as mesmas causas produzem os mesmos efeitos, é de temer dias menos risonhos numa Europa dividida e sem rumo. Os anos de paz, de grande prosperidade e de alguma solidariedade que tivemos desde a II Guerra – Mundial, podem encontrar-se em perigo. As sementes daninhas do referendo britânico, que agora foram lançadas no tecido europeu, poderão alastrar e colocar os ainda 27 países da UE em profunda convulsão.

Se quisermos encontrar uma causa profunda para esta viragem, o fenómeno da emigração, com os refugiados diariamente a chegar aos milhares, pode-nos ajudar a explicar a razão pela qual o mal- estar de muitos países do velho continente se encontra ao rubro. Em vez de este fenómeno despertar sentimentos de solidariedade, o que se tem presenciado é que, pelo contrário, tem potenciado fatores de fechamento e desintegração. Felizmente, o nosso país tem rumado em sentido contrário.

Se a Europa quiser aprender com o referendo da Inglaterra tem que arrepiar caminho e voltar às suas origens. Criar um espaço de uma união hospitaleira para a paz, para a solidariedade, para a tolerância e para o bem - estar de todos os cidadãos. Quando algum destes exigentes parâmetros não for tido em conta e vacilar, o perigo espreitará e as consequências nefastas não se farão esperar.

Para a UE sobreviver, face aos perigos que se perfilam no céu cinzento destes dias, em primeiro lugar, quanto a nós, necessita de dar um salto em frente, onde a democracia na sua plenitude comece a funcionar. Para tal, deverão ser criados mecanismos de representação e participação dos cidadãos e dos Estados, em total pé de igualdade. Só deste modo se podem evitar os perigosos nacionalismos doentios. Se cada país seguir apenas o seu interesse, numa dinâmica estreita e egoísta, o futuro europeu que se foi construindo – um lindo sonho - pode ficar muito comprometido nos seus generosos e ambiciosos propósitos.

Não será com as políticas de uma austeridade míope que tem produzido o desemprego, asfixiado as empresas e empregos viáveis, que lá vamos. Portugal bem conhece este caminho sem futuro, potenciador da emigração da nossa juventude. Também não podemos fechar as fronteiras com arame farpado para impedir as vagas de refugiados que procuram a Europa.

O caminho deverá ser outro. Em vez de se regressar às fronteiras nacionais, importa antes forçar as indispensáveis mudanças e profundas reformas na União Europeia, que se tem deixado manietar pelos seus constantes erros políticos, nomeadamente pelos poderosos sistemas financeiros agiotas, a contente apenas de alguns, tantas vezes corruptos e privilegiados. Em vez de se criar empregos e sustentar o abalado estado social, a evasão fiscal tem levado a melhor, com a fuga dos capitais para paraísos fiscais. O egoísmo capitalista e o nacionalismo exacerbado são as faces da mesma moeda de um neoliberalismo à solta, por essa Europa fora.

Passado este vendaval, importa que o nosso governo promova urgentes conversações com o Reino Unido para salvaguardar os postos de trabalho dos portugueses que já trabalham neste país. Só enfermeiros são já uns bons milhares que lá se encontram inseridos no sistema de saúde, e outros tantos que, de malas feitas, se encontram a caminho do aeroporto. Que sejam felizes em terras de Sua Majestade!

florentinobeirao@hotmail.com

 

 

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