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Freitas Silva, das Flores a Castelo Branco

Gabriela Silva - 29/02/2016 - 10:42

O Reconquista publica a mensagem enviada pela família do médico e colunista do Reconquista José Freitas Silva, falecido no último sábado.

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José Freitas Silva faleceu no último sábado. Fotomontagem Reconquista

Ontem foi o dia mais negro da família Freitas Silva. Fui eu a receber a fatídica notícia da morte violenta e inesperada do meu irmão. Um murro na alma.

O meu irmão nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores no dia 19 de maio de 1950. Foi o segundo filho dos meus pais mas nasceu apenas com 18 meses de diferença do primeiro. Foi, desde o primeiro momento uma criança frágil, emocionalmente inseguro, medroso, sensível e anormalmente inteligente. Foi aluno da professora Cecília Alvernaz que lhe acalentava os sonhos e entendia os seus arroubos intelectuais. Foi sempre um filho exemplar, um amigo incondicional, simpático, doce e interessado por tudo.

Depois de se licenciar em medicina, a sua vida passou a estar ligada à Beira Baixa. Castelo Branco era a sua cidade. Adorava pessoas, tinha amigos do coração que tratava como irmãos e considerava como família. Podia citar aqui nomes que ele pronunciava com reverência absoluta mas não quero esquecer nenhum. No coração de cada albicastrense, semeou ternura e amizade incondicional.

O meu irmão era profundamente modesto, inimigo de grandezas e ingénuo como uma criança. Acho mesmo que, nalguns momentos, exagerou na humildade e na ingenuidade. Mas ele era assim. Toda a gente era especial e única para ele, os seus amigos só tinham qualidades. Só nunca reconheceu nem amou as suas virtudes que eram muitas. Sei que muita gente reconhece isso.

O Zé tinha com a ilha das Flores uma relação amor/ódio que nunca conseguiu resolver. Mas nós entendemos e eu, melhor que todos os outros, porque sei o quanto a ilha nos deu e nos roubou na infância. A grande diferença é que eu vivo no presente e o meu irmão quedou-se no passado, nas memórias da infância quando a vida era simples e humilde com a sua imensa alma. Ele sabia de cor a biografia de cada florentino e amava cada escarpa e casa hortência da ilha que p viu nascer. Infelizmente o presente não tinha as cores magníficas do paraíso onde nascemos.

Nós, irmãos decidimos não ir a Castelo Branco ao seu funeral. Ele sempre achou estranho que as pessoas se deslocassem para prestar uma última homenagem a pessoas já mortas. Na ilha acontecia muito. E nós sentimos que essa seria a vontade dele. E também sabemos que não faltarão amigos nessa última homenagem. E é a esses amigos, àqueles que nunca o deixaram ficar sozinho que queremos agradecer do fundo do coração. Para nós, Castelo Branco nunca será um lugar qualquer e há muita gente que sabe disso

A Polícia de Castelo Branco foi o seu lugar de trabalho nos últimos anos. A Reconquista era a página do seu diário de emoções. A todos a nossa profunda gratidão pela amizade que lhe dispensaram em vida e pela eficiência no tratamento desta morte que nos deixou a todos consternados.

O homem morre a primeira vez quando perde o entusiasmo- disse Balzac. E digo eu. Para o meu irmão o entusiasmo morrera há muito!

Gabriela Silva (irmã do Dr. Freitas)

COMENTÁRIOS

Ana Pinto
à muito tempo atrás
Todos recordam o Grande médico, eu posso recordar o estudante de Medicina em Lisboa que acompanhou a minha mãe à maternidade. A amizade não têm tempo, espaço ou local.