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Pobretes, mas alegretes

Florentino Beirão - 30/11/2016 - 10:14

Com o tempo a passar tão veloz, já lá vai um ano que o governo da geringonça” de António Costa se encontra no poder. Tempo de um breve balanço para memória futura.
Comecemos por referir uma recente sondagem da universidade católica com 71% dos portugueses a acreditarem que a solução encontrada para governar o país, se parecia improvável, vai aguentar-se quatro anos. Um resultado surpreendente dado que, no início do mandato, apenas cerca de 30% acreditava nesta nova solução.
As razões deste otimismo poderá ter a ver com as medidas encetadas pelo Governo, durante este seu primeiro ano de vida.
Várias têm sido as tentativas para explicar este fenómeno político.
Uma delas terá a ver com o desempenho da economia do país que, em contraciclo, teve um crescimento de 0.8%, no terceiro trimestre, a fazer inveja aos parceiros europeus. Deste modo, colocou a taxa de variação homóloga do PIB em 1,6%. O desemprego, por sua vez, obteve uma suave queda. Ocorreu ainda que houve um Orçamento consolidado, de meter inveja à oposição. A reposição dos salários da função pública e o aumento das baixas pensões de reforma que aliviando muitas famílias que, nos anos de chumbo, sofreram o que não lembrava ao diabo. A promessa de integrar na função pública os contratados pelo Estado a prestar trabalho efetivo e permanente que, há largos anos, aspiravam por esta justa medida. A compra dos livros escolares para alguns alunos do 1.º ciclo e a promessa de alargar esta oferta para todos, no próximo ano. O aumento do ordenado mínimo, que embora frouxo, sempre irá permitir a muitos uma vida ligeiramente melhor.
Além destas e outras medidas que aliviaram a bolsa de muitos, acresce ainda as boas relações com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que, num ambiente de uma grande empatia com o primeiro- ministro e com a população, criou uma onda de otimismo que muito terá contribuído para a estabilidade social e política. Na verdade, António Costa, ao longo deste ano, diga-se em abono da verdade, foi conseguindo, magistralmente, ganhar em todas as frentes. Internamente, com os três partidos que apoiam o governo. Externamente, com a UE e com uma diplomacia agressiva a que o Presidente da República deu a mão.
Neste contexto, não se olvide as relações mais favoráveis que o primeiro- ministro foi conseguindo obter com o Banco Central na recapitalização da CGD e, com a Comissão Europeia em Bruxelas, mais compreensiva e colaborante, relativamente à aprovação dos Orçamentos. Alheio não terá sido também o periclitante clima da UE a braços com o “brexit”, as ondas de emigrantes africanos e sírios, as extremas - direitas a crescerem, em alguns países da Europa, e agora, na América com a eleição do instável e truculento Trump para a Casa Branca.
Por outro lado, como a mesma sondagem revela, a oposição ao Governo a descer, ainda não conseguiu elaborar um discurso coerente e credível de alternativa que entusiasmasse o eleitorado. Com as guerrilhas internas no PSD pela liderança do partido, a sua situação instável ainda promete dar que falar nos próximos tempos. Quanto ao novo CDS, com a recente mudança de líder, ainda procura um discurso coerente e claro para manter o seu eleitorado.
Não sendo um mar de rosas, este governo, apoiado pelo PS, PCP, BE e Verdes, terá pela frente um caminho cheio de difíceis barreiras a vencer. Lembremos a volumosa dívida pública a consumir uma verba igual ao que gastamos com todo o nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os investimentos internos e externos a tardarem a surgir. Os níveis de pobreza, um pouco mais de 20%, sem um fim à vista.
Com um crescimento aquém do previsto pelo Governo e com a dívida pública a subir, o futuro não se mostra risonho. A falta de verbas para colmatar as dívidas do SNS também não é uma boa notícia. A muito incerta conjuntura europeia e internacional a prometer surpresas para o próximo ano, será igualmente uma fonte de preocupações. 
Acrescente-se ainda as sempre adiadas reformas do Estado a continuarem à espera de melhores dias. O mesmo se diga da complexa normalização da banca que promete fazer correr ainda muita tinta. 
Com 1,2 % de crescimento, o país, por mais otimismo que lhe seja acenado, não poderá ir muito longe nos próximos tempos. Enquanto a dívida for tão alta, não há milagre que nos salve. Enfim, como diz o povo, resta-nos, como noutros tempos, continuarmos a ser “pobretes, mas alegretes”.

florentinobeirao@hotmail.com

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