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Há 80 anos do lado de lá

Luís Beato Nunes - 04/08/2016 - 10:03

A 1 de Abril de 1939 terminava o conflito que muitos historiadores apelidam de antecâmera da II Guerra Mundial. Apesar de ter terminado no conhecido dia das mentiras, a Guerra Civil Espanhola não foi nenhuma brincadeira, tendo servido de laboratório para o que viria a ser a história da Europa nos meses seguintes.

            A Guerra Civil Espanhola começou do dia 17 para o dia 18 de Julho há 80 anos atrás opondo os republicanos aos nacionalistas, após cinco anos da abdicação de Afonso XIII e a consequente proclamação da República em 1931.

            Apesar de esgotada, sobretudo com os escândalos de corrupção de Primo de Rivera, o ditador nomeado por Afonso XIII, a Monarquia tinha ainda grande apoio entre os representantes da Igreja e do Exército, os quais temiam que a República afectasse o equilíbrio de poderes no país vizinho.

            A economia espanhola era uma economia frágil, mas em crescimento, não tendo sido muito afectada com a I Guerra Mundial e beneficiando da carência alimentar do continente europeu para potenciar o crescimento da sua agricultura exportadora.

            A crise de 1929 não teve grande impacto em Espanha, uma vez que esta era predominantemente uma economia agrária e assente nas suas várias explorações mineiras e na sua indústria metalúrgica que se tinha emancipado durante a I Guerra Mundial ao abastecer os vários países envolvidos no conflito.

            Contudo, a agricultura na Andaluzia continuava nas mãos de latifundiários e nos principais centros industriais do país, como Madrid, Barcelona, Valência e Bilbao, o movimento operário consolidara-se nos primeiros anos do século XX, delineando-se as diferenças entre os que trabalhavam e os que enriqueciam com o trabalho dos outros.

            Assim, a Espanha da década de 1930 era um país profundamente dividido não só ideologicamente, mas também entre republicanos e monárquicos, entre liberais e nacionalistas, entre anti-clericais e religiosos, terminando estas diferenças num confronto que ceifou centenas de milhares de vidas.

            A Zona Raiana não ficou indiferente a estas divisões na Península Ibérica. Os nacionalistas controlavam toda a zona da fronteira com Portugal de onde receberam apoio militar na sua campanha bélica para tomar Madrid.

            Mas Portugal também se dividiu nos apoios às partes envolvidas no conflito do país vizinho. Se o Estado Novo apoiava os nacionalistas, muitos portugueses da Raia ajudaram vários espanhóis que escapavam à miséria e à fome que se alastrava com o conflito no seu país.

            Aqueles que vivem na Raia sabem que mais do que diferenças políticas e ideológicas, do outro lado da fronteira também há pessoas e vidas inocentes afectadas pelas decisões daqueles para quem a fronteira serve apenas para dividir.

            Ao contrário dos que vivem no litoral da Península Ibérica, aqueles que partilham o seu interior dos dois lados da fronteira sabem ajudar-se, porque reconhecem que nada ganham em viver de costas voltadas, sobretudo quando apenas se têm uns aos outros.

            O interior da Península bem pode ser inóspito no Inverno e um verdadeiro braseiro no Verão, mas as pessoas estão sempre dispostas a enfrentar as suas dificuldades em conjunto, porque mais do que ninguém elas sabem que a fronteira é algo que se dissipa na Raia.        

                                                                                                                                                                                                                                                                                           luis.beato.nunes@gmail.com        

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