Tem-se escrito, e a própria página oficial do Sport Benfica e Castelo Branco na Internet, também o refere, que o Clube foi fundado em 24 de Março de 1924, com a designação de Onze Vermelho Albicastrense. Tal afirmação, não corresponde à realidade.
Nos primeiros anos da década de vinte, do século passado, em data que ainda não consegui avigorar, foi fundado na cidade um clube a que puseram o nome de Sport Lisboa e Castelo Branco, clube esse, que era uma Delegação do Sport Lisboa e Benfica. Quer os cartões dos associados, quer as quotas, era precisamente o utilizado pelo clube sede, tendo o cartão apenas oposta a palavra DELEGAÇÃO; tenho em meu poder o cartão de um associado, com a respectiva fotografia e quota.
Em 20 de Junho de 1926, teve lugar a inauguração de uma nova sede do clube, conforme programa de um prospecto, de que tenho fotocópia.
Em 1927, o tão falado campo de futebol para a cidade, não passava de um projecto, e o Sport Lisboa e Castelo Branco resolveu ter o seu próprio campo, para o que adquiriu um terreno para o efeito. Por motivos que ainda não me foi possível confirmar, que penso estarem relacionados com o facto de o clube não ter existência legal, isto é, não ter estatutos aprovados pelo Governo Civil, e dada a urgência que o assunto requeria, ter de elaborar estatutos e submetê-los à aprovação da Assembleia Geral, o que levaria alguns dias, houve necessidade de recorrer aos próprios estatutos do Sport Lisboa e Benfica, que foram aprovados em 23 de Setembro, como sendo o Sport Lisboa e Castelo Branco, com a designação de Delegação da Associação de Recreio “Sport Lisboa e Benfica”. Tenho não só fotocópia dos estatutos, como uma cópia do Alvará emitido pelo Governo Civil.
O campo de futebol foi inaugurado em 6 de Novembro, com a participação do Sport Grupo Sacavenense, que venceu os albicastrenses por 3-0.
O Sport Lisboa e Castelo Branco, oficialmente, a Delegação da Associação de Recreio “Sport Lisboa e Benfica”, terá deixado de existir, por voltas de 1930 ou 1931.
Porque a paixão pelo futebol era evidente, um grupo de albicastrenses que com frequência se reunia, ao que consta na Devesa, resolveram fundar em Fevereiro de 1934, um novo Clube, a que puseram o nome de Onze Vermelho Albicastrense, tendo em Assembleia Geral de 1 de Março aprovado os Estatutos, e eleita a primeira Direcção, constituída por: Presidente, António Tavares; Vice-Presidente, Alberto de Abreu; 1º- Secretário, António Correia de Sá; 2º. Secretário, Domingos de Abreu; Tesoureiro, Francisco Pereira; 1º. Vogal, José Maria de Abreu; 2º. Vogal, Francisco Mendes Ribeiro.
Os Estatutos foram aprovados pelo Governo Civil, em 24 de Março; tenho igualmente fotocópia dos Estatutos, com as assinaturas dos sócios presentes na Assembleia Geral, bem como cópia do respectivo Alvará emitido pelo Governo Civil.
Em 27 de Março de 1934, o Comando da Polícia de Segurança Pública do Distrito de Castelo Branco, enviou ao Governador Civil de Castelo Branco, o ofício nº. 344, do seguinte teor:
“Em resposta ao ofício de V. Exª. de 26 do corrente, sob o nº. 68, 2ª. Secção, cumpre-me informar V. Exª. que em 1 de janeiro do corrente ano, não existia nesta cidade qualquer grupo de fout-baal, devidamente organisado.
Actualmente existe nesta cidade o grupo “ONZE VERMELHO” fundado em fevereiro do corrente ano e com estatutos aprovados por esse Governo Civil de 24 do corrente, não havendo assim qualquer outro grupo”.
Nada mais esclarecedor: o Comando da Polícia de Segurança Pública, informa o Governo Civil, que à data de 1 de Janeiro de 1934, não existia em Castelo Branco nenhum clube de futebol, e que o Onze Vermelho, o clube que está na génese do Sport Benfica e Castelo Branco, fora fundado em Fevereiro de 1934.
A fundação do Onze Vermelho Albicastrense, gerou na cidade um movimento associa-tivo, pois que nesse ano, registou-se a fundação do Sporting Clube de Castelo Branco, em 21 de Abril; do Clube de Futebol “Os Albicastrenses”, vulgo, Belenenses, em 25 de Setembro e da Associação Académica Albicastrense, em 26 de Novembro.
Em 22 de Março de 1936, é fundada a Associação de Futebol de Castelo Branco, e o Onze Vermelho Albicastrense é um dos dez Clubes Fundadores.
Em Assembleia Geral de 3 de Junho de 1936, o nome do Onze Vermelho Albicastrense foi mudado para Sport Lisboa e Castelo Branco, por sugestão, segundo consta, de Tomás Mendes da Silva Pinto.
No dia seguinte, a Direcção do Clube comunicava ao Governador Civil, a mudança da designação.
Uma história de que se conta, é de que a alteração do nome do Onze Vermelho Albicastrense, foi por “determinação política”, face à situação que se passava em Espanha, pela conotação que o Vermelho podia ter com determinada facção política; é uma história, em que não acredito, enquanto não vir um documento que prove a sua veracidade.
Diz-se, de que foi um Governador Civil, natural de Vale de Prazeres, quem ordenara a mudança de nome; o tal Governador Civil, natural de Vale de Prazeres, chamava-se António Maria Pinto de Castelo Branco, e tomou posse do cargo em 20 de Junho; ora se o Onze Vermelho Albicastrense tinha mudado de nome dezassete dias antes, em 3 de Junho, tal “acusação” cai por terra. À data, era Governador Civil, o Dr. Luís Egas da Câmara Pinto Coelho, e não creio que tenha recebido quaisquer instruções ou tido qualquer influência naquele sentido.
Que impacto político podia ter o nome do Onze Vermelho Albicastrense, um clube que nos seus dois anos de existência, que muita gente do distrito desconhecia, que havia feito, até então, uma dúzia, ou pouco mais, de jogos a nível regional?
Na toponímia de Lisboa, por decisão camarária de 18 de Agosto de 1922, foi atribuída a uma artéria da cidade, o nome de Rua do Triângulo Vermelho, em homenagem à Associação da Mocidade Cristã, mundialmente conhecida como YMCA, de formação evangélica, pelo apoio prestado ao Corpo Expedicionário Português, e tanto quanto julgo saber, o nome da rua nunca foi mudado; politicamente, o nome de Vermelho, numa cidade como Lisboa, teria, certamente, uma outra amplitude.
Em 17 de Abril de 1936, o Governo Civil de Lisboa, enviou ao Governo Civil de Castelo Branco, um ofício do seguinte teor:
“Para observância do disposto do § único do Artº. 63º. do Código da Estrada tenho a honra de comunicar a V. Exª. que autorizei a prova de regularidade e turismo para automóveis e motocicletes denominada “III RALY VERMELHO SÔBRE LISBOA”.
Esta prova que é promovida pelo “Sport Lisboa e Benfica”, chega a esta cidade no dia 19 do corrente e passa pelos distritos a que se refere a adjunta nota”. A nota que acompanha o ofício, menciona todas as filiais do clube, por onde o raly passava.
O Governo Civil de Lisboa, autoriza a realização de uma prova desportiva, que percorre o País de norte a sul, organizada por um clube com a enorme popularidade que já então desfrutava, o Sport Lisboa e Benfica, prova essa, em que a palavra Vermelho figura na sua denominação, com todo o aproveitamento político que daí poderia advir, e é o Governo Civil de Castelo Branco que não quer que o Onze Vermelho Albicastrense, tenha tal designação?
Em 1948, surge um movimento, no sentido de haver um único clube devidamente estruturado, “sem distinção de preferências clubistas,”que representasse a cidade com dignidade.
Assim, em Assembleia Geral do Sport Lisboa e Castelo Branco, realizada em 26 de Março de 1948, foi deliberado alterar a sua denominação para Associação Desportiva de Castelo Branco, tendo o Sport Lisboa e Castelo Branco desvinculado do Sport Lisboa e Benfica.
Ao longo dos anos, ouvi dizer a algumas pessoas, na altura mais idosas do que eu, de que a Associação Desportiva de Castelo Branco resultara da fusão dos três clubes então existentes, o que não corresponde à realidade.
O Clube de Futebol “Os Albicastrenses,” em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 26 de Abril de 1948, e que tinha como único ponto da Ordem dos Trabalhos, “Apreciação de uma proposta feita pelo Sport Lisboa e Castelo Branco, no sentido de propôr a adesão do Clube de Futebol “Os Albicastrenses”à Associação Desportiva de Castelo Branco,”foi rejeitada por nove votos a favor da adesão e vinte e três contra; quanto ao Sporting Clube de Castelo Branco, não sei se houve adesão ou incorporação; em 1962, a então Direcção do Sport Benfica e Castelo Branco, convidou-me para fazer um inventário das taças e galhardetes do clube, e recordo-me de ter visto uma ou duas taças que o Sporting havia conquistado, bem como de um pequeno troféu, constituído por um leão, que servia de pisa-papéis.
Os Estatutos da novel Associação Desportiva de Castelo Branco, foram aprovados pelo Subsecretário de Estado da Educação, em 19.05.1948, “Aprovados, nos termos do artigo 20º.do decreto nº. 32 946, os estatutos do organismo desportivo Associação Desportiva de Castelo Branco, clube resultante da reorganização do Sport Lisboa e Castelo Branco,”D.G. II Série, nº. 120, de 25.05.1948.
Os Estatutos, no seu artigo 43º., transitório, determinava: “A Assembleia Geral da Associação Desportiva de Castelo Branco, reunirá por direito próprio no dia 26 de Março de 1950, para apreciar se através da acção do Clube transformado se obteve a almejada melhoria das condições desportivas e representativas da cidade. Se essa Assembleia emitir o voto de que tal melhoria não foi conseguida, votará novamente a sua transformação em Sport-Lisboa e Castelo Branco, com todos os seus bens e valores, a qual se tornará efectiva depois de autorizada superiormente.”
Os objectivos não foram alcançados, e na Assembleia Geral da Associação Desportiva de Castelo Branco, realizada em 12 de Março de 1952, foi deliberado voltar ao antigo, mas em vez de a transformação ser feita em Sport Lisboa e Castelo Branco, como estava estatuído, foi em Sport Benfica e Castelo Branco; diga-se, por curiosidade, que a nova denominação, não foi a correcta, pois que de harmonia com o Estatutos do Sport Lisboa e Benfica, de 1948, deveria ser Sport Castelo Branco e Benfica.
Os Estatutos foram aprovados por despacho do Subsecretário de Estado da Educação, de 30 de Julho, publicado no D.G. III Série, nº. 135, de 6 de Agosto do mesmo ano.
Em 1983, quando a Direcção do Sport Benfica e Castelo Branco, elaborou o processo para a obtenção do Estatuto de Instituição de Utilidade Pública, por motivos que desconheço, teve de alterar o artigo 1º. dos seus Estatutos, por escritura pública, em de 28 de Março, lavrada no 2º. Cartório da Secretaria Notarial de Castelo Branco, e publicada no D.R., III Série, nº. 88,de 12.04.1983, o qual ficou com a seguinte redacção:
“O Sport Benfica e Castelo Branco, agremiação desportiva fundada em Fevereiro de mil novecentos e trinta e quatro, é constituída por um número indeterminado de sócios, tendo a sua sede em Castelo Branco”.
Jurista que não sou, creio em minha modesta opinião, que tal escritura não tinha razão de ser, porquanto, existe um despacho da então Direcção Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar (hoje Instituto Português do Desporto e Juventude), não me recordo da data exacta, mas julgo ser de 1945 ou 1946, de que” um clube que mude de nome não deixa de ser o mesmo”.
Além do mais, anteriormente, quer os Estatutos da Associação Desportiva de Castelo Branco, quer os do Sport Benfica e Castelo Branco, tinham sido aprovados pelo Subsecretário de Estado da Educação.
Ao ser alterado o referido artigo, porque razão foi feita referência, em como o Sport Benfica e Castelo Branco ter sido fundado em Fevereiro de 1934 e não em de 24 de Março de 1924?. É uma resposta que só a então Direcção poderá fazer.
Mas, como surge a data de 24 de Março de 1924?
Em finais da década de cinquenta, princípios da de sessenta, a Federação Portuguesa de Futebol passou a felicitar os Clubes pela passagem do aniversário da sua fundação e, em relação ao Sport Benfica e Castelo Branco, teve como referência, a data de 24 de Março de 1924. Foi a partir daí, que o Clube passou a referir-se como sendo aquela a data da sua fundação.
Na época de 1947/1948 ou na de 1948/1949, a Federação solicitou às Associações Regionais a elaboração de uma “Memória Sinóptica” da sua história. Quando fiz parte da Direcção da Associação de Futebol de Castelo Branco, vi a cópia da referida “Memória Sinóptica”, cópia que creio não existir hoje no seu arquivo.
Penso, que muito provavelmente, estará nela a confusão, relacionada com a data da aprovação dos estatutos do Onze Vermelho Albicastrense, 24 de Março de 1934, pois poderá ter havido um lapso dactilográfico dos serviços da Associação de Futebol, ou a um lapso dos serviços da Federação ao compilar a data. Já manifestei por duas vezes junto da Federação, o meu interesse em poder consultar a referida “Memória Sinóptica”, para poder dissipar as minhas dúvidas, não tendo obtido qualquer resposta.
Admitindo a hipótese, que amanhã surgirá uma referência de que o Sport Lisboa e Castelo Branco, fundado na década de vinte, foi efectivamente fundado em 24 de Março de 1924, a antiguidade do Sport Benfica e Castelo Branco nunca se reportará a ela, por serem clubes diferentes.
Em face do exposto atrás, fica demonstrado que o Sport Benfica e Castelo Branco, fundado com a designação inicial de Onze Vermelho Albicastrense, completa neste mês de Fevereiro de 2019, oitenta e cinco anos de História, pelo que não irá fazer, com muita pena minha, porque não dizê-lo, noventa e cinco anos no próximo dia 24 de Março.
Se no espírito de alguns subsistirem dúvidas, quanto à data da fundação do Onze Vermelho Albicastrense, poderão tirá-las, consultando o “Fundo do Governo Civil” existente no Arquivo Distrital de Castelo Branco.
António Arnel Afonso/Sócio nº. 15 do SBCB
Rua de S. Miguel, 3
6000-181 Castelo Branco
reconquista@reconquista.pt
272 321 357 | 272 247 473*
