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Mário Soares, o democratizador

José Manuel Sanches - 12/01/2017 - 14:22

Muito se escreveu e continuará a escrever sobre o percurso político e pessoal do grande estadista que foi Mário Soares.

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Muito se escreveu e continuará a escrever sobre o percurso político e pessoal do grande estadista que foi Mário Soares. Da esquerda à direita, em todos os cantos do planeta, muitas foram as vozes que, de alguma forma, quiseram manifestar a consideração pela forma de vida e o pesar pela morte de Mário Soares. Ao longo da sua vida granjeou, o que não é muito normal em política, a consideração da maioria dos políticos a nível nacional, mas também de muitos dos grandes estadistas internacionais. Isto só foi possível graças à sua forma tolerante de estar na vida e na política. Como afirmou Shimon Peres, um dos seus admiradores, “Mário Soares é a expressão viva de que se pode ser um político e ter valores”.  Também eu, que não obstante termos pertencido à mesma família política nunca tive o privilégio de privar com ele de forma muito próxima, não quero deixar de lhe prestar uma modesta homenagem póstuma, dedicando-lhe este artigo de opinião. Como atrás ficou referido, não é fácil, sobretudo em política, agradar a uma grande maioria de pessoas. Porém, pela sua postura sempre tolerante, nomeadamente com os seus adversários, conseguiu reunir consensos tanto à esquerda como à direita. Foi um negociador nato, colocando os interesses do país acima dos interesses pessoais ou partidários. Como ele próprio declarou numa entrevista em 1997, “Sou um homem de esquerda. Sou socialista. Mas, antes de ser socialista, sou democrata. E, antes ainda, sou português.” De facto a ele se devem decisões importantes para Portugal, da qual a mais relevante terá sido a assinatura da adesão à, na altura, CEE. 
Ao longo da sua rica história, Portugal tem tido figuras que a têm marcado de forma muito assinalável. Para realçar apenas algumas dessas figuras da nossa história referia, começando pela fundação da nacionalidade, D. Afonso Henriques, designado “o Conquistador”, pelas enormes conquistas feitas aos mouros. Na quarta dinastia tivemos D. João IV que, por ter conseguido restaura a independência, acabando com o reinado dos Filipes, foi denominado “o Restaurador”. Mais recentemente, tivemos meio século de obscurantismo, repressão e tortura, por um regime assegurado por “um ditador”. No deambular do século XX e inicio do século XXI tivemos alguém que após ter lutado e sofrido a dureza dessa ditadura, ficará na história como o obreiro, o baluarte da criação duma democracia plena e consolidada no nosso país. Este homem foi Mário Soares e denominá-lo-ia por “o Democratizador”.  
Mário Soares apenas morreu fisicamente, porque a história vai mantê-lo vivo para todo o sempre. A imortalidade não está ao alcance de todos, mas apenas daqueles que vivem por causas, por princípios e sacrificam as suas próprias vidas em prol do bem colectivo. Os capitães derrubaram a ditadura, mas a democracia foi institucionalizada por este homem, tão tolerante, quanto lutador. Em Março de 1986, afirmou: “Com a revolução de 25 de Abril, Portugal recuperou a sua tradição de tolerância…:” Foi para ter um país tolerante que ele lutou! Compete-nos, agora, a nós, para honrar a sua memória, lutar para que assim se mantenha!

jsanchespires@gmail.com

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