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Integração: Um almoço de domingo sem fronteiras

José Furtado - 23/11/2018 - 11:00

 VÍDEO  Recorde a reportagem que valeu ao Reconquista dois prémios do Obciber

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Ana abriu as portas de casa a duas famílias. Foto José Furtado/ Reconquista

A reportagem em vídeo produzida pelo Reconquista, que conta esta história publicada no jornal em papel, recebeu dois prémios do Observatório do Ciberjornalismo. O Reconquista volta a publicar este trabalho, editado originalmente a 30 de novembro de 2017. 

 

Na casa de Ana Nunes prepara-se um almoço de domingo diferente.

Em vez da família que se senta à mesa, naquele que para muitos é o almoço mais importante da semana, esta moradora da zona antiga de Castelo Branco vai receber duas famílias que não conhece e cujo traço comum é serem imigrantes.

Este é o espírito do “Família do Lado”, uma iniciativa de âmbito mundial que nasceu em 2004 na República Checa e que é organizada em Portugal pela mão do Alto Comissariado para as Migrações.

Em Castelo Branco a tarefa é assumida pela Associação Amato Lusitano e envolveu três famílias que acolherem imigrantes ao almoço.

Na mesa haverá alho francês à Brás e chili sem carne, entre outras iguarias.

“Sou vegetariana há mais de 10 anos”, conta a anfitriã, que não está sozinha.

Os casais que vai receber partilham da mesma atitude.

A hipótese de participar no “Família do Lado” surgiu através de uma amiga “que me perguntou se eu queria participar nesta iniciativa, uma vez que os casais que vinham eram vegetarianos”.

Há portanto muito tema para a conversa à mesa.

Os convidados de Ana vieram na Rússia e da Ucrânia.

Sérgio Grystsiv está em Portugal há mais de dois anos, com a mulher Tulipana e a filha Amina.

Nos primeiros sete meses viveram em São João da Talha, nos arredores de Lisboa, e em fevereiro do ano passado chegaram a Castelo Branco.

Escolheram Portugal para viver depois de falarem com uma tia, que mora no Cartaxo.

Em Castelo Branco começaram por viver num pensão, onde as condições eram difíceis para o jovem casal e a filha pequena.

Um dia encontraram um apartamento nos classificados do Reconquista e desde essa altura residem no bairro do Ribeiro das Perdizes.

Sérgio fala razoavelmente bem português.

“A adaptação foi boa, sem problemas. Só as primeiras duas semanas é que foram complicadas porque era uma cidade nova, não conhecíamos ninguém nem falávamos português”.

O casal conhece algumas famílias de ucranianos “mas conhecemos mais portugueses”.

O almoço “é uma boa ideia para provar outros pratos e conversar”.

Sérgio ganhou o gosto pela couve portuguesa e o azeite.

Vadim Maurer veio da Rússia com a mulher Maria e o filho Erni, ainda bebé.

Chegaram com o estatuto de refugiados há pouco mais de um ano e ainda aguardam a conclusão do seu processo junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Vadim trabalha com a Cáritas em Castelo Branco, onde fez muitos amigos.

“Eu faço tudo para ajudar gente que não tem dinheiro e tem problemas de saúde. Já fiquei nesta situação e sei o que é isso”.

Filho de pai alemão e mãe grega encontrou uma alma nova em Portugal, um país que não conhecia.

“Gosto muito deste país, porque aqui a minha alma abre”.

O panorama da imigração mudou nos últimos anos na região, algo que é notado pela Associação Amato Lusitano, que há mais de uma década apoia quem chega de fora para viver e trabalhar nesta zona.

Arnaldo Brás, o presidente da associação, diz que há hoje menos imigrantes mas os que chegam são necessários para atenuar o despovoamento.

“Percebemos que temos aqui pessoas que nos seus países eram altamente credenciadas e que também estão aqui a tentar estudar a língua e a ter formação para desenvolverem as suas atividades profissionais”.

Na região a crise económica e financeira levou à quebra da construção civil, que empregava muitos estrangeiros.

Hoje é a agricultura e a floresta que atrai pessoas vindas dos países asiáticos.

E há uma nova vaga de naturais dos países do norte da Europa que estão a instalar-se no mundo rural.

“Temos já um número significativo de estrageiros que desenvolvem pequenas atividades na agricultura e nas artes e que estão em quase todas as freguesias. São pessoas que se integram com a maior das facilidades e procuram envolver-se nas comunidades”, diz o presidente da Amato Lusitano.

 

 

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