Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Leitores: E se vier um incêndio?

António Lopes Luís - 20/07/2017 - 12:00

A tragédia de Pedrógão Grande e concelhos vizinhos tem-me posto a pensar sobre as causas dos incêndios e o que se poderá fazer para os evitar ou pelo menos para diminuir as suas consequências.

Partilhar:

A tragédia de Pedrógão Grande e concelhos vizinhos tem-me posto a pensar sobre as causas dos incêndios e o que se poderá fazer para os evitar ou pelo menos para diminuir as suas consequências.
Muitos técnicos, certamente competentes, têm falado sobre a matéria nos diversos meios de comunicação social, com destaque para a televisão. Em todo o caso, quem nasceu e conhece a região do pinhal não pode deixar de considerar muitas ideias absolutamente desfocadas da realidade e por isso dificilmente concretizáveis; outras, aparentemente mais simples, estariam ao alcance de qualquer governo implementar e pouco se fala delas.
No grupo de ideias desfocadas da realidade incluo a proposta governamental de exigir aos proprietários a limpeza da floresta, como se a floresta consiga pagar todas as despesas inerentes. É bom aqui recordar que não foram apenas os proprietários que abandonaram as florestas; foram as sucessivas políticas negativas que abandonaram o interior do país, obrigando a maior parte da sua população a procurar o litoral, as zonas urbanas e mesmo a emigração. Em muitas aldeias não há sequer pessoas capazes de trabalhar, há apenas idosos. Por outro lado, foi o Estado que deixou de implementar os sapadores florestais e demais serviços associados à floresta. Daí que, exigir aos proprietários que contribuam na limpeza das matas poderá ser razoável dependendo do esforço relativo, mas será injusto e mesmo impossível comportarem sozinhos essa despesa. Até porque o pinheiro, por exemplo, é uma espécie florestal que demora mais de duas décadas a atingir dimensões apropriadas ao corte. Nesse espaço de tempo há-de vir, como tem acontecido, outro incêndio e lá se vai a floresta e o dinheiro gasto na sua conservação. Acresce que o próprio Estado não garante a limpeza das suas propriedades, nem consegue impedir aí os incêndios, mesmo tratando-se em muitos casos de áreas protegidas. Decretar parques naturais é uma coisa, conservá-los adequadamente é outra bem diferente. No grupo de ideias mais simples e capazes de evitar perda de vidas humanas estão por exemplo as seguintes:
a) Nas aldeias e vilas, exigir o corte de espécies florestais nomeadamente de pinheiro e eucalipto num perímetro de pelo menos duzentos metros a contar da casa mais próxima. Temos aldeias completamente sufocadas por pinheiros e eucaliptos que constituem um perigo real, como se viu em Pedrógão Grande e se vê todos os anos em que há incêndios.
b) Exigir o ordenamento no interior das aldeias, proibindo durante o verão a dispersão de materiais combustíveis como lenhas e mato junto das habitações.
c) Exigir aos proprietários a limpeza de silvados no interior das povoações.
d) Impor o corte de árvores ao longo das estradas nacionais e municipais numa distância de dez metros para cada lado, pelo menos.
e) Nas zonas de floresta, embora reconheça que problema é mais difícil, há no entanto, uma ideia que há muito tempo, venho consolidando: é necessário não só abrir caminhos para circulação de veículos, mas também abrir estradões que dificultem a passagem do fogo e facilitem a movimentação das viaturas dos bombeiros. De certo modo é preciso fragmentar a floresta para facilitar o combate aos incêndios.
Falando agora concretamente da Isna, freguesia que conheço, gostaria de recordar que em 2003 o fogo chegou a rondar a aldeia e foi preciso lutar a sério para impedir a sua aproximação às habitações. Por isso, não compreendo que nada se faça para prevenir situações futuras.
Deixo aqui três sugestões não exclusivamente minhas, mas frequentemente referidas por várias pessoas da terra:
a) É urgente limpar a barroca ao longo de todo o seu percurso; a quantidade de silvas, arbustos e toda a espécie de ervas e plantas constituem, em caso de incêndio, um perigo real para muitas habitações.
b) Cortar todos os pinheiros e eucaliptos que existem entre a Estrada do Desvio e a povoação ou que se encontrem a menos de duzentos metros das habitações.
c) Em relação à floresta, é de reconhecer como muito positivo o esforço que está a ser feito na abertura e limpeza de caminhos florestais. Contudo, deixo aqui uma pergunta: não seria possível transformar alguns caminhos em estradões, de forma a facilitar a circulação de viaturas dos bombeiros e dificultar a passagem das chamas? As pessoas mais informadas sobre este assunto, certamente darão a resposta mais adequada.
Em conclusão: o importante é não adormecer à sombra da ideia de que a nós nada acontece. É preciso estar atentos e fazer aquilo que depende nós. As medidas referidas são apenas medidas mínimas, se queremos evitar desgraças como as que aconteceram em Pedrógão. Como diz o nosso povo, é melhor prevenir do que remediar.
 

 

COMENTÁRIOS