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Leitores: Monsenhor José Geraldes Freire. Uma intensa atividade jornalística

J. M. Soares de Barcelos - 13/04/2017 - 10:03

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Monsenhor José Geraldes Freire faleceu, a 17 de Março passado, aos 88 anos, em Coimbra, onde residia. 
As exéquias decorreram na manhã do dia seguinte, na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, em Coimbra, ficando sepultado no cemitério da Conchada, na mesma cidade.
Filho de Joaquim Geraldes Freire e de Leonor Carrondo, nasceu a 14 de maio de 1928, em S. Miguel d’Acha, concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco. 
Foi ordenado presbítero a 15 de agosto de 1951 na catedral de Portalegre. Iniciou a vida sacerdotal nas freguesias de Alagoa e Carreiras, na referida cidade. Em 1952, foi nomeado Capelão da Sé e em 1953 Secretário da Câmara Eclesiástica. Em 1955 desempenha as funções de professor do Seminário Maior de Portalegre.
No ano de 1956, recebera uma carta do pai, que trabalhava em Moçambique, incentivando-o a tirar o curso de Direito. Feito o pedido ao Bispo de Portalegre D. Agostinho de Moura, este deu-lhe autorização, não para o Curso de Direito mas para o de Clássicas, desde que mantivesse as suas funções em Portalegre. Então, como aluno voluntário, iniciou este Curso em 1957, deslocando-se todos os meses a Coimbra, para as frequências e exames. Após cinco anos, licenciou-se em Clássicas com a elevada classificação final de 18 valores. Foi logo convidado para Assistente, no Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo deixado Portalegre e iniciado funções no ano seguinte à licenciatura, 1963, leccionando as cadeiras de Grego e Latim.
Fez o Doutoramento em 1971, aprovado com distinção e louvor, por unanimidade.
Por ter defendido publicamente os alunos que pretendiam fazer exames, na Crise Académica de 1969, foi saneado em Maio de 1974, tendo ficado afastado da Universidade até 1978. Neste ano, prestou provas para Professor Extraordinário, tendo sido aprovado por unanimidade, com a classificação máxima.
Nos finais de 1979, atingiu o grau mais alto da Carreira Docente do Ensino Superior — Professor Catedrático —, posição com que haveria de se jubilar, por limite de idade para exercer funções na Função Pública, precisamente no dia 14 de maio de 1998.
Em 1990 é nomeado Cónego Capitular da Sé de Portalegre e no mesmo ano é nomeado Monsenhor, com o título de Prelado Honorário de Sua Santidade João Paulo II.
Teve uma intensa actividade jornalística, tendo, logo no início da sua carreira, sido nomeado por D. António Ferreira Gomes, então Bispo de Portalegre, redactor do principal do órgão da Diocese “O Distrito de Portalegre”, de que era Director o Cónego Anacleto Pires da Silva Martins. Com esta nomeação, este jornal sofreu uma autêntica renovação e as suas tiragens aumentaram muito. Nas suas “Notas e Factos”, Geraldes Freire estabeleceu uma verdadeira polémica, não só com outros jornais não eclesiásticos, mas até com a própria Câmara Municipal, com todo o apoio de D. António Ferreira Gomes, polémica que não era do agrado de muita gente. Com a partida deste para Bispo do Porto, o seu sucessor, D. Agostinho de Moura, de ideias completamente contrárias, substituiu-o imediatamente na redação do Jornal.
Colaborou em vários jornais, de que se referem o Diário de Coimbra, o Comércio do Porto, o Diário do Minho, etc.  Foi também colaborador assíduo durante muitos anos do jornal Reconquista, com inúmeros artigos, destacando-se, entre muitos outros, temas ligados com Arqueologia, com referências à sua terra natal, riquíssima neste aspecto. Mas não só em referência a S. Miguel d’Acha, de toda a Beira Baixa, com divulgação de valores tradicionais, de que se destacam festas e jogos populares, cantares e danças, a descrição pormenorizada do património de igrejas, museus e outros monumentos, e inúmeros temas de índole religiosa, eclesiástica e espiritual, elaborados com a habitual superioridade e isenção de espírito, como referiria Monsenhor Alfredo Magalhães num inconcusso artigo elaborado na data da sua jubilação. Geraldes Freire, por algum bairrismo, em muitos artigos usava o pseudónimo de Miguel d’Acha.
Tem mais de vinte publicações feitas, destacando-se entre elas Resistência Católica ao Salazarismo-Marcelismo, prefácio de D. António Ferreira Gomes,  publicada pela Telos, Porto, em 1976 e O Segredo de Fátima: a terceira parte é em Portugal?, publicada pelo Santuário de Fátima em 1977.
Depois de tantos anos de colaboração, considero que o Jornal Reconquista de 23 de Março de 2017, ao publicar uma pequenina nota sobre o falecimento de Monsenhor Geraldes Freire, não lhe prestou a devida homenagem. Por isso, como seu sobrinho (por afinidade), aqui deixo estas modestas palavras sobre a sua notável carreira.

COMENTÁRIOS

vasco sousa pedro branco
à muito tempo atrás
Como seu aluno que o fui, no ano lectivo de 68/69, ministrando-me o ensino de Língua Latina II, ao que julgo, tive por ele uma grande estima e admiração, da forma como administrava as suas aulas com a sua simplicidade que o caracterizava, não deixando antever que dentro dele existiam um saber clássico e humanístico invejáveis e até me lembro dum livrinho, quase sob forma de opúsculo, com o título, senão me engano: "Sobre a necessidade do estudo do latim". Mais tarde, encontrámo-nos, casualmente, no autocarro, perto da Faculdade de Letras do Porto, onde acabaria a minha licenciatura, em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses. Na altura, fez-me uma grande falta e logo me reconheceu. Aqui deixo o meu sentimento de eterna saudade ao meu professor e amigo: Professor Geraldes Freire, do seu aluno Vasco.