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Acerca da ética e da deontologia

António José Alves Oliveira - 02/02/2017 - 10:43

Batista (2011) refere que a questão da ética docente depende da existência de uma cultura organizacional e profissional sólida, que desoculte, no processo de avaliação de desempenho, a riqueza do conhecimento e dos padrões de profissionalidade dos professores.

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Batista (2011) refere que  a questão da ética docente depende da existência de uma cultura organizacional e profissional sólida, que desoculte,  no processo  de avaliação de desempenho,  a riqueza do conhecimento e dos padrões de profissionalidade dos professores. No quadro da formação de um estatuto ético e deontológico, no qual surgem aspirações   de reconhecimento social,  de justiça,  de igualdade,  de convivência positiva, os docentes devem  comprometer-se coletivamente com o projeto educativo da sociedade, garantindo a  capacitação  para decidir de acordo com os seus próprios princípios e as qualidades morais de cada ator educativo.
Também Marques (2008) salienta que a ética no exercício da docência depende da existência  e prática quotidiana de virtudes  intelectuais e de caráter que qualquer  professor deve possuir, de modo a que este exerça a sua função com autoridade e retire e gere prazer para si e para os alunos em atividades que conduzam à excelência. Contudo, essas virtudes, do ponto de vista aristotélico, não se ensinam, adquirem-se através de hábitos ligados à justiça, à prudência e à coragem. A escola, nesta perspetiva, deve ser um lugar de “florescimento pessoal dos alunos e professores, enquanto cidadãos, e não pode ser formatada institucionalmente para servir interesses políticos ou submeter-se às pretensões de controlo da economia capitalista  e do setor empresarial”. 
A ética associada ao exercício profissional comporta um conjunto de normativas e deveres (deontologia profissional), que regulam a conduta de um coletivo de profissionais, de forma a prestarem um serviço de qualidade,  em condições de igualdade e procurando satisfazer as necessidades  dos indivíduos a que servem, pois sem a perspetiva ética, a deontologia ficaria sem o seu horizonte de referência.  (Martins, 2010)
   Em termos deontológicos, o educador tem responsabilidades impostas pela sociedade e  obrigações que impõe a si mesmo resultantes das orientações do poder político e das limitações que abrangem a Educação. (Dias, 2004)
A questão da criação  de uma Ordem de Professores, com o objetivo de regular a função docente através da definição de um quadro formativo,  ético e deontológico e travar o  declínio do prestigio social e  profissional dos docentes,  coloca-se numa situação de impasse pela falta de consenso entre  sindicatos e o poder político. A falta de um código deontológico tem contribuído para a dificuldade  dos professores poderem  resistir às pressões da sociedade e aos receios emergentes a que estão sujeitos.  (Ruivo et al. 2008) 
A formulação de  juízos de valor sobre o trabalho dos professores, realizado numa dinâmica de pares e  no seio da sua escola, bem como   os resultados da investigação educativa sobre as práticas docentes, poderiam consistir nos conhecimentos de referência  de todos os profissionais de ensino e os critérios de um código deontológico para a profissão. (Tardif, 2004)
Embora não exista em Portugal uma Ordem de Professores e um Código Deontológico que regulamente a atividade docente,  o Estatuto da Carreira Docente,  no artigo 35º, do Decreto-Lei nº75/2010, de 23 de junho, refere as seguintes funções, entendidas   como os deveres gerais dos professores portugueses, os quais devem:
- Exercer as suas funções  com responsabilidade, autonomia técnica e científica;
- Desenvolver a sua atividade profissional de acordo com as orientações das políticas educativas, o  currículo nacional, os programas, as orientações curriculares e o projeto educativo da escola onde lecionam;
- Lecionar as áreas curriculares e os respetivos conteúdos para as quais se encontram habilitados legalmente, atendendo às necessidades educativas dos seus alunos e ao cumprimento do seu horário de trabalho;
- Planificar de acordo com a programação curricular, pressupondo o objetivo de realizar as atividades letivas para a sua turma e alunos;
- Participar em todo o processo de avaliação dos alunos, na conceção, aplicação e correção dos instrumentos de avaliação;
- Elaborar e avaliar o material didático que tenha  concebido para o processo de ensino e aprendizagem dos alunos;
-  Promover, organizar ou participar   nas diversas atividades  previstas no plano anual de atividades ou no projeto educativo, dentro ou fora da escola;
- Acompanhar o desenvolvimento das atividades de enriquecimento curricular;
- Realizar atividades relacionadas com o apoio educativo, deteção de dificuldades de aprendizagem dos alunos e execução de planos de acompanhamento;
- Orientar o processo de aprendizagem dos seus alunos  em colaboração com os respetivos encarregados de educação;
- Colaborar com os Serviços de Psicologia e Orientação da escola com vista à orientação dos alunos em questões de ordem educativa, social ou profissional;
- Supervisionar  atividades pedagógicas na escola;
- Participar em  atividades de investigação de natureza científica e pedagógica;
- Participar como formando ou formador em ações de formação contínua ou especializada;
- Desempenhar  funções em estruturas de coordenação administrativa ou educativa, conforme o estabelecido legalmente para o desempenho de cargos em estabelecimentos de ensino. 
O retorno à ética na vida quotidiana e na formação de profissionais de ensino justifica-se num  mundo contemporâneo global cada vez mais acelerado, onde impera a exigência de rapidez nas decisões tomadas com consequências sobre os atos praticados. 
O estabelecimento de referências comuns podem tornar a vida pessoal e profissional dos professores mais suportável, já que o cumprimento de imposições legais de regulação da ação do educador sobre o Outro permite-lhe transferir as suas  responsabilidades para a instituição que prescreve e limita as suas convicções morais e a  sua autonomia na prática pedagógica. (Raimão, 2007)

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