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O futuro da UE: Construir pontes ou muros?

Florentino Beirão - 22/09/2016 - 11:08

A União Europeia, neste momento, encontra-se numa tal encruzilhada que será difícil prognosticar o seu futuro. Um salto positivo em frente, depois da saída da Inglaterra, ou antes um estilhaçar do que resta. De cimeira em cimeira, as boas intenções e os lindos discursos nunca faltam. Soluções, nulas ou tímidas. Foi precisamente o que acabou de acontecer com a recente e pouco ousada cimeira de Bratislava onde se juntaram os 27 países que hoje constituem a EU. Se as espectativas eram muito baixas, os resultados foram aquém do esperado. Até a Itália decidiu não assinar o comunicado final, por nele não se rever.
Esta simbólica divisão revela-nos que começa a haver, cada vez mais, países que acham que como a EU não funciona bem, decidem optar por defenderem os seus interesses nacionais. Em vez de se lançarem pontes entre eles, constroem-se muros à sua volta. 
Há membros que aceitando o atual conceito da EU, contudo dividem-se em dois grupos. Os que colocam o acento tónico na segurança europeia e outros que não relevam esta prioridade como absoluta, destacando outras, as migrações de África e do Médio – Oriente em guerra. Encontram-se neste grupo a República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia. Encerrar as portas aos refugiados, para este grupo de países, é agora a palavra de ordem. Acresce que, com a saída dos britânicos ainda mais se reforçaram as posições dos líderes populistas e anti - emigração. Merkel nas eleições realizadas nas últimas semanas na Alemanha sabe bem do que estamos a falar. Em regiões onde predominava o seu partido, agora, os eleitores decidiram voltar-lhe costas. A França, por sua vez, martirizada pelo terrorismo, ao encontrar-se num clima pré-eleitoral, com eleições presidenciais na primavera, seguidas de legislativas, em ambiente de esfacelamento da UE, a sua luta eurocética vai subir de tom, com Marine Le Pen à cabeça. O medo e a xenofobia parece que tomaram conta da Europa.
Perante este tão complexo cenário político, com fortes repercussões sociais e económicas, uma Europa que tarda em crescer, muitos cidadãos europeus começam a interrogar-se, com alguma perplexidade e angústia, qual será o futuro da UE. Certamente, hoje, parece ser consenso geral, se continuar por este caminho, de divisão em divisão, países do norte e do sul a afastarem-se cada vez mais, os países de leste a fecharem-se nas suas fronteiras, a economia anémica, a segurança tremida, uma liderança fraca, desemprego em alta e demografia em baixa, com estado-providência a rebentar pelas costuras, com a invasão anárquica dos refugiados, a sua continuação nestes moldes parece já ter os dias contados. A desintegração desta Europa burocrática, sem participação ativa dos cidadãos nas suas estruturas políticas, poderá não ter grande futuro. O movimento europeu de que se “lixe a UE”, a ganhar cada vez mais adeptos, pode ser o prenúncio do pior. Se em vez de muros, não se começarem a lançar pontes sólidas, entre os seus membros, o resultado não pode ser outro. Um lindo sonho que findou.
Mesmo em Portugal, com ordenados e pensões cortadas pela troika, impostos a aumentarem, despesas públicas e investimentos reduzidos, economia parada, alta taxa de desemprego, jovens sem futuro, os pobres cada vez mais pobres, uma classe média anémica, com os partidos de costas voltadas e a não se entenderem em questões nacionais, a UE para muitos começa, cada vez mais, a ser não uma fonte de esperança, mas de perplexidade.
Na verdade, as debilidades dos alicerces em que assenta a União Económica e Monetária da Europa tornaram-se visíveis com o início da última crise da dívida soberana na zona euro. Com economias tão divergentes, moedas fortes e fracas a conviverem no mesmo espaço económico, se a solidariedade e as pontes não se criarem entre os países da EU, poderá precipitar o seu fim.
Com disparidades regionais tão acentuadas e com políticas económicas tão centralizadas, com instituições e práticas político-administrativas tão distintas, a convergência tornou-se cada vez mais difícil.
Os cenários possíveis, para tentar dar um novo alento à UE europeia dos 27, quanto a nós, seria o supranacionalismo federalista, o intergovernamentalismo ou a integração diferenciada. Conversa para outra altura.

florentinobeirao@hotmail.com

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