Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

O meu adeus ao Padre Libânio

Florentino Beirão - 05/01/2017 - 9:33

“Felizes os mortos que morrem no Senhor; desde agora eles repousam das suas fadigas porque as suas obras os acompanham” (Ap. 14.13).

Partilhar:

“Felizes os mortos que morrem no Senhor; desde agora eles repousam das suas fadigas porque as suas obras os acompanham” (Ap. 14.13).
Estas as palavras que me ocorreram quando soube do falecimento do nosso bom e velho amigo padre Libânio Domingos Martins, nascido em 14.11.1936, na ErmidaSertã.
A minha relação mais próxima com o padre Libânio aconteceu na paróquia da Sé de Castelo Branco, em finais dos conturbados anos sessenta. Nesta equipa fantástica e inesquecível, encontravam-se ainda o Monsenhor Magalhães, os cónegos Cabral e Tarcísio, o p. Nuno Semedo.
Durante os anos que privei com ele, tive a felicidade de descobrir a riqueza da sua personalidade humana bem como a sua profunda fé que, de uma grande consistência.
Quando se encontrava mais desanimado no seu trabalho pastoral, como professor de Religião e Moral na Escola Comercial e Industrial de Castelo Branco, comungando eu das mesmas preocupações, muitas vezes me confidenciava “se não tivesse fé, não aguentava tamanho esforço”. Recordemos que nos finais dos anos sessenta – com as mudança de mentalidade dos jovens - com as aulas de Moral obrigatórias e sem avaliação, difícil era manter os alunos interessados nas aulas. No Liceu, eu sentia mesmas dificuldades – agravadas por um Reitor fascizante.
Durante estes anos, na férias do Verão, no seu Austin, lá nos juntávamos para visitarmos a Europa – um deslumbramento para nós que vivíamos sufocados pela ditadura.
Por vezes, ainda tivemos tempo de ocuparmos a capela da Senhora da Rocha no Algarve onde nos descomprimíamos e aprofundámos as nossas relações de profunda amizade. Depois que ele se desligou da equipa sacerdotal de Castelo Branco, pouco mais tive a felicidade de privar com ele, visitando-o apenas em Cernache do Bonjardim e na lareira afetuosa de Marvão, onde me deu a conhecer a grande figura da oposição a Salazar, o então mais moderno arquiteto do país Nuno Teutónio. Ainda visitei o p. Libânio no Rossio ao sul do Tejo onde vivia de um modo tão frugal que me lembrou a biografia do Santo Cura d´Àrs, mil vezes lida e relida no seminário de Portalegre, enquanto metíamos umas garfadas na boca.
Nos últimos anos, tive ainda o prazer de reviver os bons momentos passados com p. Libânio uma vez que se encontrava a residir no seminário de Alcains, com mais alguns colegas. Já bastante agastado na sua saúde ainda ganhou forças para paroquiar Escalos de Baixo e Mata e, finalmente, integrado na equipa sacerdotal de Alcains.
Nesta fase da sua vida, senti que a sua saúde ia esmorecendo dia após dia, embora não regateasse esforços, quase sobre humanos, para prestar o serviço pastoral que lhe era destinado.
E foi assim que não me surpreende a dolorosa notícia do dia 19 de Dezembro do seu falecimento, após as muitas limitações dos últimos meses da sua vida.
A última vez que conversámos, mais demoradamente, foi após o nosso último encontro dos Antigos Alunos dos nossos seminários, em Castelo Branco. Como recordam os que nele participaram o nosso amigo Joaquim Mendeiros, num livrinho por ele coordenado, dedicou-lhe uma bela “versalhada” onde descrevia a sua faceta de professor de Ciências da Natureza.

COMENTÁRIOS