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Os equilíbrios ou a falta deles: Quando a realidade supera a ficção

Luís Beato Nunes - 12/10/2017 - 9:56

Há duas semanas realizou-se mais um ato eleitoral autárquico, levando à escolha de 308 presidentes de câmaras, dos seus vereadores e assembleias municipais, assim como dos membros das 3091 assembleias de freguesia. 
Ao contrário do que seria de esperar, pela proximidade entre eleitos e eleitores, a abstenção nestas eleições tem sido ligeiramente maior do que nas legislativas, tendo descido marginalmente face ao máximo de 47,4% registado em 2013. 
Os resultados acabaram por não ser muito surpreendentes, mas precipitaram, finalmente, mudanças na oposição e foram um alerta para as duas muletas parlamentares deste governo, confirmando a história popular: “panelas de barro que se aliam a panelas de ferro acabam sempre por se partir”.
No mesmo fim-de-semana em que se realizaram as eleições autárquicas no nosso país, milhões de catalães manifestavam a sua profunda divisão e confusão num acto eleitoral pouco claro e decidido atabalhoadamente por um governo autonómico que na última década cavalgou num projeto político destinado a dividir a Espanha.  
Segundo a contagem dos votos do referendo na Catalunya, considerado ilegal por Madrid, o “sim” à independência recolheu mais de 2 milhões de votos e o “não” ficou aquém dos 200 mil votantes, numa participação que não ultrapassou os 44%.
Após a publicação dos resultados oficiais, a chamada Lei do Referendo, que o parlamento catalão aprovou e que foi suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol, estipulava que a Declaração Unilateral de Independência poderia ser realizada até dia 10 de Outubro, dia para o qual está agendada a presença de Carles Puigdemont, Presidente da Generalitat, na Mesa do Parlamento Regional.
Enquanto escrevo este artigo ainda não sei qual será a decisão do parlamento catalão, mas não é difícil antecipar um profundo impasse político em Espanha, atendendo às posições extremadas a que ambas as partes em conflito chegaram.  
Apesar da ausência de apoios internacionais e de uma declaração unilateral de independência não estar prevista para esta sessão plenária, os mais pessimistas antecipam mesmo este desfecho, o qual motivaria a evocação do art.º 155 da Constituição Espanhola, ou, num cenário mais catastrófico, a mobilização do exército para impedir a separação desta região autonómica.
Mas a realidade política, social e económica não tem sido tensa apenas na Península Ibérica e no Sul da Europa, com várias zonas do mundo a testemunharem escaladas no tom das ameaças e dos insultos que nada resolvem e que acabam por ferir egos demasiado orgulhosos para permitirem soluções razoáveis.       
As ameaças no Pacífico Norte, onde China, Coreia do Sul e Japão tentam conter as ameaças mútuas entre o regime peculiar de uma Coreia do Norte autocrática e uns EUA reféns de uma Administração Trump que envergonha a história recente da política externa deste país.
A personalidade heteróclita do déspota Coreano e o discurso inflamado e incoerente de Donald Trump podem precipitar o mundo para um conflito mundial com epicentro no Extremo Oriente, facilmente alargado ao Pacífico, com países como as Filipinas, Austrália e Singapura a alinharem as suas posições com os EUA.    
Enfim, estas últimas duas semanas foram ricas em acontecimentos diversos que agitaram a realidade nacional e internacional, promovendo a dúvida e a incerteza quanto ao futuro dos equilíbrios políticos que até hoje nos davam algumas garantias de previsibilidade e de que o Sol nasceria, como sempre, no dia de amanhã. 

luis.beato.nunes@gmail.com 

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