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Os resultados nem sempre são os esperados: Uma experiência sensorial

Luís Beato Nunes - 13/04/2017 - 10:15

A obsessão da ciência pela previsibilidade e certeza no futuro acaba por negligenciar as maravilhas inesperadas com que a vida nos surpreende.

 

Se a história dos quase 14 biliões de anos do nosso universo pudesse ser condensada em apenas 14 anos, o nosso planeta teria surgido há 5 anos atrás, as primeiras formas de vida teriam aparecido há apenas 7 meses, os dinossauros ter-se-iam extinto há 3 semanas, o ser-humano deambularia pelo planeta há apenas 3 minutos e a primeira revolução industrial teria acontecido nos últimos seis segundos.

Nas últimas décadas a velocidade das inovações tecnológicas tem permitido um conhecimento cada mais detalhado sobre a história do nosso universo e, sobretudo, da nossa espécie, mas o mais difícil perante este conhecimento adicional é manter a humildade intelectual.

A decifração do nosso código de ADN foi uma das descobertas científicas mais relevantes dos últimos 50 anos, e apesar de os testes deste código ainda custarem algumas centenas de euros, espera-se que nos próximos anos a progressiva redução do seu preço nos permita conhecer a nossa herança genética por poucos euros.

Este conhecimento generalizado influenciará a forma como vivemos e, sobretudo, como tentaremos prolongar a nossa vida, evitando, se possível, o que sempre nos assustou e muitas vezes nos impede de viver…a própria morte.

Há vários anos que a engenharia biomédica já permite o prolongamento da vida humana através de cirurgias que introduzem dispositivos artificiais no nosso organismo e que auxiliam o seu desempenho diário.

Com o fácil acesso ao código genético de cada indivíduo, muito facilmente poderemos saber com grande detalhe a probabilidade de desenvolvermos doenças congénitas, ou até procurar compatibilizar as heranças genéticas de um casal, neutralizando enfermidades. 

Esta engenharia genética está muito próxima de ser uma realidade na próxima década, assim como a robótica aplicada à medicina poderá criar soluções que prolongam artificialmente a nossa vida com uma qualidade muito superior à que temos hoje.

À medida que a engenharia se associa aos desafios lançados pela medicina e pela genética, a humanidade procura igualmente garantir a sua sobrevivência explorando outros planetas da nossa galáxia, de modo a descobrir condições onde possamos reproduzir a nossa vida caso aconteça alguma catástrofe.

Mas a obsessão da ciência pela previsibilidade e certeza no futuro acaba por negligenciar as maravilhas inesperadas com que a vida nos surpreende. Toda esta procura de imortalidade acaba por nos fazer esquecer que a vida humana acaba por ser um detalhe na história do universo, não deixando de ser uma dádiva extraordinária.

O esforço, o sacrifício e o sentimento de desilusão por não correspondermos às expectativas, ou a felicidade por conseguirmos fazer aquilo que ninguém esperava que conseguíssemos, fazem parte da nossa existência e são sentimentos próprios de todos os seres-humanos.

A sensação indescritível de acompanhar o fruto da nossa dedicação é a recompensa da nossa vida. Por vezes, os resultados nem sempre são os que esperávamos, mas a desilusão também deve servir de motivação para fazermos melhor no futuro.

Nada se compara à experiência sensorial que é a nossa vida, e por mais soluções que nos ajudem a prolongá-la ou a evitar doenças, não nos podemos esquecer que as dificuldades e os momentos mais críticos da nossa vida são também aqueles que nos ajudam a definir o nosso carácter.

luis.beato.nunes@gmail.com

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