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Pais em tempos de crises: A criança, a família e o acolhimento

Mário Freire - 02/11/2017 - 10:20

No passado mês de Julho, o Diário de Notícias trazia um resumo do Relatório de Caracterização Anual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens, da responsabilidade do Instituto da Segurança Social. De entre as estatísticas ali apresentadas, há que destacar os seguintes dados: o número de crianças e jovens em acolhimento baixou 33% nos últimos dez anos; apesar disso, as crianças e jovens dos zero aos 20 anos, caracterizados no sistema de acolhimento familiar e residencial, abrangeu 10.688 casos em 2016. O Relatório destaca, ainda, “um claro predomínio” de jovens com idades entre os 12 e os 20 anos (69,4%).  
Foi referido, depois, na mesma notícia do D.N., num encontro de uma técnica do Instituto da Segurança Social com os jornalistas, que os jovens chegam ao sistema “cada vez mais crescidos e mais complexos.” 
Ora, uma infância vivida numa atmosfera familiar adversa pode marcar, por vezes, para sempre, uma vida. Uma parte significativa das crianças acolhidas em instituições sofreu negligências de natureza física e/ou afectiva, tiveram como modelos pessoas agressivas ou elas próprias foram sujeitas a violências de vária natureza. Depois, na escola, nem sempre os seus comportamentos são os que mais se adequam ao paradigma vigente, pelo que, não sendo devidamente acompanhadas, continuam a sofrer. A sua dificuldade em suportarem a frustração, o “não”, tornam-nas em pessoas “complexas”, como foi referido pela técnica do I.S.S., e isso contribui para uma sua discriminação escolar e, mais tarde, social. Quanta marginalidade e criminalidade são oriundas destes lares desagregados!
Não pretendo, no entanto, generalizar: há pais que, por motivos vários, tiveram que deixar os filhos ir para instituições, não os privando, porém da sua presença efectiva e afectiva. E crianças há que conseguiram ultrapassar as dificuldades e hoje são adultos plenamente integrados na sociedade. O que pretendo dizer é que um ambiente familiar acolhedor e estável contribui para o desenvolvimento harmonioso, físico e psicológico, de uma criança, com repercussões positivas quer na vida escolar, quer, depois, como adulto, na vida profissional e social e na família que vier a constituir. 

freiremr98@gmail.com                                             

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