Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Pais em tempos de Crises: A dignidade e a liberdade

Mário Freire - 15/02/2018 - 9:26

Estou a escrever esta crónica num destes últimos dias em que o frio mais se fez sentir. Abriram-se portas de instituições para acolher pessoas que dormem na rua; algumas estações do metro de Lisboa e Porto não fecharam durante a noite para que aquelas pessoas pudessem ter um pouco mais de calor. Numa das muitas reportagens feitas na televisão, viu-se uma jornalista falar com alguém que se recusava a ir para um abrigo, preferindo ficar durante a noite na rua. Perguntando-lhe da razão por que tomava essa decisão, a pessoa balbuciou umas palavras, não perceptíveis. A jornalista fez, então, o comentário de que ela se encontrava “confusa” mas que tinha que ser respeitada a sua liberdade. Dei por mim, então, a questionar-me sobre este caso. 
Releio um Documento de Trabalho do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, presidido, então, pelo Professor Luís Archer, geneticista molecular e jesuíta, intitulado “Reflexão Ética sobre a Dignidade Humana”, da autoria da Professora Teresa Joaquim. Nele se diz que “a dignidade humana afirma que todo o ser humano, por o ser, é o maior valor, e este sobressai quando é mais agredido, violentado, ignorado ou negado. (...) Os comportamentos que mais indignificam o próprio são os que indignificam os outros, sobretudo os mais débeis e vulneráveis, nomeadamente as crianças, os idosos, os doentes, os excluídos por todas as razões…” Por outro lado, o professor Fernando Oliveira, da Faculdade de Direito do Porto, diz que o princípio da dignidade da pessoa humana contém, entre vários, o seguinte elemento: “o impedimento de aviltamento e coisificação da pessoa”.
A partir do que foi referido, julgo que permitir a alguém que é um excluído da sociedade, de estado de saúde duvidoso, e deixá-lo ser agredido, violentado pelas inclemências da Natureza, é diminuir-lhe ainda mais o valor da pessoa que é, é aviltá-lo, reduzi-lo a uma coisa. Não se fica a observar, impavidamente, alguém que se quer atirar de uma ponte para baixo. Tem que se fazer algo para a impedir de se matar, de atentar contra a sua pessoa, contra a sua dignidade. Só há liberdade quando há dignidade.
Que tem tudo isto a ver com pais e filhos? Ora, de entre as principais causas que levam à situação de sem-abrigo são o conflito familiar e conjugal, a separação, o desamor. Depois, estas situações de antagonismo entre liberdade e dignidade humana prestam-se para uma conversa entre pais e filhos adolescentes. Até onde vai a minha liberdade, em casa, na escola, com os amigos? Quando é que ela colide com a dignidade do outro e com a minha própria? Perguntas exigentes para respostas que merecem reflexão.
freiremr98@gmail.com

COMENTÁRIOS