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Pais em tempos de crises: Da intenção à realização

Mário Freire - 05/07/2018 - 10:07

Quantas vezes os pais dizem aos filhos frases do tipo “concentra-te no que estás a fazer!”, em relação a uma tarefa que se pretende que eles façam mas que, encontrando motivos que os distraem, não a conseguem realizar! Ora, Jean-Philippe Lachaux, investigador em neurociências, num encontro com a socióloga e jornalista Maud Navarre, diz que “a intenção é a chave da concentração” e fornece algumas dicas para esta ser melhorada.
Antes, porém, de as enunciar, socorria-me de um exemplo que ele dá para a ilustrar. Suponhamos que tenho um copo cheio de água e que pretendo deslocá-lo de um lado para outro, sem entornar o líquido. Ora, vou incidir toda a minha atenção no bordo do copo, afastando qualquer estímulo, qualquer mensagem que possa distrair-me do fim que pretendo atingir: não entornar a água, enquanto desloco o copo, para o local que pretendo. Para isso, tive que abstrair de tudo aquilo que poderia desviar-me dessa tarefa e fazê-la com o maior dos cuidados.
A partir deste exemplo, poderiam identificar-se as três componentes da concentração, segundo Jean-Philippe Lachaux: a intenção, isto é, aquilo que se tem em vista alcançar; a percepção, ou seja, aquilo sobre que tem que incidir a atenção, abstraindo de tudo o resto que cause perturbação; a acção, a maneira de agir, isto é, o que há a fazer para que a intenção se concretize. Ora, estes elementos que intervêm na concentração tanto se aplicam às tarefas manuais como às de natureza intelectual. 
Porque é que alguns dos trabalhos que os nossos filhos fazem (ou que nós próprios fazemos) não saem como devem? A resposta encontra-se em que um ou mais dos elementos atrás referidos não foram considerados nas tarefas que se pretendiam levar a cabo. Assim, seria porque não foi definido com precisão aquilo que pretendia alcançar-se (por exemplo, estudar aquele determinado tema de Biologia que sairá no próximo teste)? Seria porque houve distracção com factos ou circunstâncias que nada tinham a ver com o que se pretendia atingir (por exemplo, estudar com o telemóvel, ao lado, a dar sinal de recebimento de mensagens ou a ouvir música punk-rock ou hardcore)? Seria porque o modo como se agiu não foi o adequado (por exemplo, ler as tais páginas de Biologia como se fossem de um romance em vez de o fazer em voz alta, voltando atrás para melhor compreender e tentando repetir por palavras próprias aquilo que se leu)?
Enfim, concentrar implica pôr em actividade múltiplas funções cerebrais, tais como definir objectivos, resistir à dispersão, planear e executar determinadas acções. Só assim a intenção poderá chegar à realização.

freiremr98@gmail.com

                                            

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