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Pais em tempos de crises: Namoro, intimidade e violência

Mário Freire - 01/03/2018 - 9:26

O Dia dos Namorados, passado já há uns dias, foi aproveitado para serem divulgados dois estudos, com base em inquéritos junto de jovens, versando a violência no namoro.
Num dos estudos, referido no Jornal de Notícias, cuja amostra ultrapassa os 3.000 jovens, com a média de idades de 15 anos, diz-se que 56% foram vítimas de violência de vária ordem.
Num outro estudo, em contexto universitário, e divulgado no jornal Público, mostra que, dos 1800 jovens que responderam, mais de metade foram vítimas de violência e 37% admitiram tê-la praticado. Dos comportamentos identificados como de violentos, cerca de 50% reportam à violência física, um terço à violência social, isto é, humilhar em público, mexer sem o consentimento do outro no telemóvel, na conta de correio electrónico ou na do facebook, etc., 27,3% ao stalking, ou seja, comportamentos de assédio que são praticados por uma pessoa contra outra, e 17,2% à violência sexual. 
Explicitando melhor o stalking, ele concretiza-se quando, de forma persistente, uma pessoa envia para outra mensagens, liga persistentemente, envia e-mails, procura aproximar-se de diferentes formas, mesmo que de maneira simpática. Se não houver correspondência da outra parte, estes comportamentos de assédio podem vir a assumir a forma de ameaça, de coacção, de insulto, de difamação e até de agressão física.
Ora, o namoro, numa concepção conservadora, é uma relação afectiva entre duas pessoas de sexo oposto que têm o desejo de estarem juntas e que pretendem construir, de uma maneira estável, um projecto de futuro de vida em comum. Essa relação não constitui, ainda, um vínculo suficientemente sólido pois um maior conhecimento mútuo e os valores que cada um possui podem conduzir a que tal relação não prossiga. Nada de mal!
O que acontece hoje em dia, em regra, é que esses relacionamentos, sendo superficiais e de pequena duração, assumem logo formas de profunda intimidade, mesmo na adolescência e, por vezes, com consequências graves. Basta dizer que, em Portugal, segundo os últimos dados disponíveis, uma média de seis adolescentes, entre os 11 e os 19 anos, dão à luz todos os dias. Isto constitui, de certa forma, uma preparação mais para o divórcio do que para uma relação estável e duradoura, em que o casamento seria a sua expressão maior. Por outro lado, uma relação de grande intimidade física mas, também, de grande superficialidade nos outros domínios, tem maior probabilidade de nela se instalar a violência. E tal acontece porque aquilo que une as pessoas tem um conteúdo muito limitado e que facilmente conduz a que, à mínima contrariedade ou frustração, o equilíbrio relacional se desfaça.  
Enfim, pequenas reflexões para um tema de grande relevância. 

freiremr98@gmail.com

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