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pais em tempos de crises: O carpinteiro e o jardineiro

Mário Freire - 08/02/2018 - 9:35

Se há algumas dezenas de anos ser pai e mãe tinha lugar em idades relativamente jovens, nos dias de hoje, os pais têm os seus filhos, em regra, em idades mais tardias. Ora, muitos destes pais tentam proceder, de acordo com Alison Gopnik, reputada professora de psicologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley, como se fossem estudantes ou trabalhadores, seguindo modelos e tentando que seus filhos atinjam determinadas competências. Para isso, eles põem-nos a aprender judo, música, bailado, etc. Tudo isto é designado por Gopnik por “parenting”. Este caracterizar-se-ia pelo abandono das maneiras tradicionais de educar, sendo substituídas por prescrições, quer referidas à socialização, quer à escolaridade, quer à saúde dos filhos…  
Ora, esta autora acaba de publicar como que um anti-manual de educação (“O jardineiro e o carpinteiro”) onde critica o espartilho de muitas das regras de educação da criança. Ela dá importância ao jogo, à observação da natureza e do mundo e às experimentações que a criança realiza, sendo a idade dos “porquês” a manifestação do seu desejo de aprender. 
Gopnik tenta, então, persuadir os pais a parar de moldar as crianças à imagem de um adulto tal como um carpinteiro que, a partir do desenho que elaborou, tenta fazer o móvel por medida. Em vez disso, a autora propõe que os pais sejam como que jardineiros, propiciando um ambiente rico em estímulos à criança, para que possa desenvolver-se.
O modelo “parenting”, controlando exageradamente a criança, restringindo-lhe a capacidade de enfrentar as mudanças, impondo-lhe aprendizagens de uma maneira rígida, limita-a na sua possibilidade de se adaptar às alterações do ambiente, na sua iniciativa de fazer face a situações desconhecidas, ao mesmo tempo que reforça a ansiedade dos pais, ficando estes com o sentimento de nunca ter feito o suficiente para o bem dos filhos. Retiro do livro de Gopnik dois modos de actuação dos pais que poderiam contribuir para o desenvolvimento dos filhos: o jogo e a realização de tarefas com significado.
No jogo, a criança pode explorar o meio, tentando descobrir, imitar, representando algo ou alguém, a sós e em cooperação com outros, trocando experiências. Isto permite-lhe encontrar mil e uma possibilidades, imaginar situações e personagens e, assim, compreender melhor como a vida funciona.
Na realização de tarefas com significado a criança implica-se em actividades do quotidiano, seja limpar a casa, praticar jardinagem, cozinhar, ler… Mais do que mostrar-lhe como fazer qualquer coisa que nada tenha a ver com aquilo que ela vê todos os dias, é proporcionar-lhe que ela faça aquilo que a situa no ambiente que a cerca. Educar uma criança nem sempre é fácil mas é, certamente, uma tarefa desafiante! 
freiremr98@gmail.com

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