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As pessoas podem melhorar moralmente por via química e biológica?

Mário Freire - 21/09/2017 - 9:30

A hipófise é uma glândula situada na base do cérebro e que é responsável pela regulação da actividade de outras glândulas, produzindo hormonas, que concorrem para o funcionamento harmonioso do organismo. Ora, de entre essas hormonas há uma chamada oxitocina. Há muito que se sabia que esta hormona promove as contracções do útero, na altura do parto, reduz a hemorragia quando esta ocorre e estimula a produção do leite materno. Mais recentemente, foram-lhe atribuídas outras funções, de natureza psicológica, tais como a de tornar as pessoas mais cooperativas, mais generosas, com maior capacidade de se colocarem no lugar dos outros. Seria a hormona do sentido moral, aumentando a confiança, a afeição, tudo o que favorecesse as boas relações humanas. Daí a ideia defendida por alguns de essa hormona ser amplamente distribuída para remediar as carências morais, de afectividade e de sociabilidade de muitos.
Ora, o filósofo inglês Harris Wiseman, no seu livro “O Mito do Cérebro Moral” (The Mit Press, 2016) tem um olhar crítico sobre este desejo de melhorar a humanidade a partir das intervenções químicas e biológicas. Analisando detalhadamente o efeito desta e de outras substâncias, como a serotonina e a dopamina, no comportamento humano, Wiseman diz que as experiências feitas em laboratório não são de resultados inequívocos. Elas só aumentariam a generosidade, a sociabilidade… em situações muito particulares. Em algumas destas, até, poderiam ter efeitos contrários. Por isso ele diz que o funcionamento moral é muito complexo, em que a biologia tem o seu papel, é certo, mas não determinado por ela. A moralidade não pode ser manipulada; não existe um “cérebro moral”. Segundo Wiseman, o comportamento moral envolve a interacção de muitos factores, especialmente os sociais e os ambientais. 
Ora, é no ambiente familiar que se forjam os primeiros hábitos, onde se aprendem os valores. Uma família que pratique a generosidade, onde cada um dos seus elementos esteja disponível em ajudar, em que a cordialidade seja uma constante nas relações, talvez, então, não seja necessário administrar quaisquer substâncias químicas ou biológicas para fazerem de uma criança ou adolescente que nela viva um adulto generoso, sociável e que contribua para uma sociedade melhor.
Mário Freire

 

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