Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Pais em Tempos de Crises: Dê cá a sua mãozinha!

Mário Freire - 14/06/2017 - 9:48

AL, de 80 anos, estava a atravessar a rua, na passadeira. Talvez, nesse momento, estivesse a andar mais devagar do que o normal porque de dentro do carro um homem lhe berrou: “Velho do caraças! Já deves anos à cova!” Outras expressões são utilizadas que denunciam uma discriminação dirigida a pessoas idosas. 
À semelhança dos preconceitos do racismo, do sexismo e da xenofobia, o idadismo refere-se às atitudes e práticas de discriminação (geralmente negativa) das pessoas com base na idade. Ora, estes preconceitos, que se traduzem em atitudes, podem assumir três formas: a tendência para olharmos para os idosos como parte de um grupo homogéneo e indiferenciado; uma atitude paternalista para com os mais velhos e, por fim, os abusos e maus tratos (já tratados nesta coluna).
Na análise dos resultados de um estudo do “European Social Survey” de 2009, referido no jornal “Público” de 14 de Julho de 2013, diz-se no capítulo Idadismo que, quando questionados directamente, os portugueses afirmam-se como não preconceituosos contra as pessoas idosas. No entanto, de acordo com este estudo, a discriminação em relação à idade é a principal forma de discriminação sentida pelos portugueses (17%).
No mesmo sentido vai a psicóloga social Sibila Marques, autora do livro “Discriminação na Terceira Idade”, que afirma que a sociedade portuguesa é essencialmente idadista “nas formas mais subtis”, predominando um preconceito mais paternalista em relação aos mais velhos: “Achamos que as pessoas idosas não são muito competentes mas são muito simpáticas - dizemos bem mas pensamos que são um fardo.” E essa subtileza ocorre, segundo depoimentos no referido jornal “Público”, em variados locais. Assim, infantilizam-se os mais velhos, humilham-se quando, em serviços de saúde, lares de idosos, se lhes diz: “dê cá a sua mãozinha, o seu pezinho …”. E, note-se, que esta infantilização e humilhação são feitas não só na comunidade como, também, no trabalho e na família.
Há, pois, um longo trajecto a percorrer para que o idadismo se atenue e esse trabalho tem que começar, em primeiro lugar, na família mas, também, na escola e nas instituições, dando formação adequada para quem lida com o público. 
freiremr98@gmail.com

 

COMENTÁRIOS